domingo, 28 de fevereiro de 2010

baixa rotação nocturna

the cable house do andrew chalk não é uma novidade, mas enquanto paira uma ameaça subliminar de temporal e os dias se desenham a cinzento versão 2010, será essencial a sua descoberta. paira no seu próprio vazio, feito de uma estaticidade latente, sintomática de abandono. profundamente submerso na solidão, trata-se do disco mais "triste" que ouvi desde, sei lá, o disintegration loops do william basinski*. lindíssimo tratado sobre contenção, gere os semi-silêncios de um modo subtilmente tenso, conferindo a cada nota de piano que se solta uma dimensão humildemente majestosa. como se a sua lógica interna fosse seguida de um modo que se parece deslocar de tudo aquilo que o precedeu, revestindo-se de uma incomensurável emotividade. invocando essa mesma ausência. em pequenos gestos.
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*que poderá, com as suas diferenças, ser até uma referência pertinente.
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escrita letárgica (ou não fosse domingo) de abstracção sensitiva. ou meramente über-imagética. deve ser do avançado da hora. com agradecimentos à joana. defo.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

fitas

um artigo sobre cassetes na pitchfork será sempre um artigo sobre cassetes na pitchfork. não sendo particularmente premente ou relevante, presta-se mesmo a especular sobre um suposto comeback, quando na verdade o meio sempre existiu. constata o óbvio e cai no erro de referenciar lançamentos mais marginais de bandas como oneida ou dirty projectors sem grande explicação para tal. enquanto peça meramente informativa, consegue, ainda assim cumprir o seu papel de modo minimamente digno. no fundo, é um espelho da própria pitchfork.
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quem se deixou (momentaneamente) do formato foi joe knight (rangers) que prepara o lançamento do seu primeiro álbum pela olde english spelling bee. deixei aqui algumas palavras a antevê-lo.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

(re)começar

num contínuo com o ano transacto, mas como se a respirar os primeiros ares de 2010. por ora, o cheiro destas chuvas insistentes e estas 2 primeiras belas malhas :

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zinc ft. ms. dynamite - wile out

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aquele início com a voz da ms. dynamite em ondas de suavidade enquanto canta “you don’t wanna play with dynamite", soa terrivelmente desajustado, principalmente depois do petardo de 'get low' com produção do geeneus. felizmente o tema redime-se rapidamente com a entrada daquele sintetizador em saltos ukg via 'show me love' a levarem a prestação da ms. dynamite para territórios menos delicados, com o patois a acentuar a cadência 4/4 insistente (destacado nos pratos) que instala o tema em territórios mais afastados da síncope e a acercarem-se das produções vincadamente house do geeneus. tal, não será surpreendente tendo em conta o facto do zinc colaborar habitualmente com este último ('emotions' é obrigatória), mesmo que se demarque de uma certa agressividade persistente em crack house. deixa também óptimas indicações para o álbum de estreia da katy b, com a produção a cargo dos dois produtores*, mesmo que não venha alterar nada ao desinteresse generalizado ao regresso da ms. dynamite. consonante, portanto.

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*como se tal fosse necessário depois de coisas como a clássica 'as i' ou mais recentemente a refix de 'goodlife'

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illmana ft. tazmin - kiss you

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'kiss you' é uma espécie de companion piece cândida (por oposição a confrontacional) de 'ready fi de war' com a stush (disponível na mix funky vol. 4 do dj reflex). mantendo a mesma ameaça subliminar deste último tema, prenhe de agressividade rítmica, para transportar o instrumental (cuja cadência é igual) para ambiências marcadamente mais misteriosas, numa transversalidade entre a entropia de 'i wish' de x5 dubs com a teresa e o lado mais soturno de 'tell me what it is' do dj ng. paradigma de um desespero dançável na uk funky de que gosto demasiado sem recorrer a grande raciocínio.



segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

garota de verão

a bethany é uma rapariga muito divertida que canta sobre garotos e sol em best coast e me respondeu a algumas perguntas aqui.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

eleições

se o díptico throne/self destruction apresentava um demarcar da obra-prima KA, entre o drone de sofá drogado e o rescaldo da dança em formas líquidas, respectivamente, toda a coerência interna pós-caitlin cook/calder martin espelhada nos interessantes sunbomber, alternation ou no gozo (por vezes) inconsequente de debt dept. mostrava o estúdio como um meio asséptico para as semi-canções dos excepter*. com mais de duas horas**, nunca presidence seria sinónimo de coerência. atirando-se a todas as suas tendências em planos distintos, é talvez essa a razão que faz dele o melhor álbum dos nova-iorquinos desde throne (o tempo revelará se não mesmo desde KA). dito isto, facilmente incorro no risco de hipérbole ao afirmar que muito dificilmente irei ouvir mais 10 discos em 2010 que o superem. brevemente irei escrever sobre ele. existe muita matéria que se dispersa. a ver se não desaparece.
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*obra outsider, black beach levou-os até à praia, mas estava mais próximo do naturalismo do jewelled antler do que da alienação urbana de outrora.
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**gravações entre 2003 e 2009.
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notas de qualidade : a suite 'teleportation' traz de novo o reverb do poço, enquanto 'presidence' é um solo do john fell ryan para sintetizador em igual medida acid-house e 'suicide'. sem deixar de invocar a kösmiche e tony conrad, simultaneamente. uma anomalia não distante de algo como "falsa música de dança" (que pode até nos melhores momentos ser uma descrição bastante sucinta dos excepter, curiosamente***). e sem um único beat.
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***epitomizado em 'interplay' ('your house' e 'back room')