quarta-feira, 30 de maio de 2012

agora

apesar do silêncio, este blog não morreu. tenho até escrito com alguma frequência para o bodyspace - sempre que possível, isto é. no entanto, não queria atolar isto com mera linkagem (sic) para reviews que, de um modo ou outro se inserem - em toda a sua amplitude e desacerto formal - numa mesma realidade. até ao final da semana procurarei dar-lhes o devido enquadramento contextual, para que essas ideias vagas sobre a "contemporaneidade" assumam um raciocínio minimamente lógico.

naquilo que poderá ser visto como um interlúdio a esses textos, escrevi sobre o disco de memória de peixe. o que me garantiu algum hate mail e palavras jocosas de alguns "fãs" ofendidos com uma opinião contrária. usual.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

assombração



num dos casos raríssimos em que a aleatoriedade da internet se revelou uma coisa boa, dei com esta canção quando fazia uma daquelas pesquisas madrugadoras - pré-sono e motivadas pelo tédio - em torno de algo tão vago como "psychedelic country" : acto contíguo à demanda pelo loner psych, numa tentativa de desencantar alguma pérola em linha com a cosmic american music do gram parsons, o misticismo poeirento do peter grudzien, e claro, notorious byrd brothers. no fundo, um lado da west coast que não estivesse tão preso ao country-rock de raíz de coisas como o gilded palace of sin, buffalo springfield ou mesmo music from big pink, e mais direccionado para uma visão etérea do outlaw country - não necessariamente estrito a esse espaço físico e temporal, até porque o II dos meat puppets é o melhor disco do mundo.

e mesmo que uma canção como 'tumbling tumbleweeds' do michael nesmith tivesse servido o propósito da busca na perfeição, foi esta maravilha vinda - literalmente - de lado nenhum a deixar uma marca muito profunda, enquanto cápsula para tudo aquilo que defendo ao abrigo da definição possível para loner psych. neste caso, psych pode também ser lido como derivação de psychotic, pela carga quase stalker que permeia a canção. como se os aspectos mais downer do roy orbinson - crying, it's over ou leah - se deixassem ao abandono de tonight's the night, sobre uma manta de reverb que dá a tudo isto um sentimento de deslocamento - acentuado pelo riff esquivo da guitarra. curiosamente, a aparente displicência com que é tratado o swing e o som lo-fi, acabam por criar um mindset com a cena outsider folk da oceânia - do pip proud ao alastair galbraith - e claro, com jandek - em particular, blue corpse. a realização deste post anterior numa canção assombrosa - em todos os sentidos da palavra - sem tempo nem lugar, cuja existência parece estar remetida a este link do youtube e a um leilão do 7". sobre a editora - dailey records - não se encontram quaisquer infos, e nem tão pouco há referências à data de edição. um vazio com sentido.

ps: 'love game' no lado b também enorme, embora seja uma citação mais directa ao roy orbinson - ou mesmo aos momentos mais country dos everly brothers. mais luminosa, mas ainda assim com um fundo ligeiramente desesperado a dar-lhe uma certa amargura.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

revoluções?

uma dos meus maiores motivos de felicidade music wise em 2012 foi o facto de wonky dos orbital ser um óptimo disco. o facto de ter saído numa altura em que andava a ouvir o in sides e o snivilization também ajudou ao entusiasmo, mas permitiu-me esquecer a existência do the altogether e do blue album. esperar uma obra-prima dos irmãos hartnoll era injusto e wonky sustenta-se nos seus méritos sem qualquer condescendência. afirmei-o declaradamente.

^^ o que me leva ao facto de que devia escrever sobre o parastrophics dos mouse on mars - pensando em regressos - mas faltam-me ainda ideias mais concretas para escrever algo adequado a uma banda que numa determinada altura foi a minha favorita. importa não perder o momentum.

falando em "bandas favoritas" - termo parvo, eu sei - aproveitei este artigo colectivo em celebração ao 25 de abril para escrever sobre o transient random-noise bursts with anouncements dos stereolab - que é, muito provavelmente o meu disco favorito deles, apesar de um carinho muito especial pelo pobre cobra and phases group play voltage in the milky night. music for the jilted generation foi a minha outra escolha, como que a lembrar como os prodigy foram verdadeiramente grandes. bring back 94?

muito recentemente, e motivado pelo dark york do le1f - que apesar de se arrastar um bom bocado tem umas 6 ou 7 canções de grande valor, como esta - tenho andado a ouvir rap nascido no epicentro queer de NY. 'ima read' é a primeira grande canção saída dessa cena, e escrevi sobre ela no bodyspace aproveitando o facto para linkar um artigo recente na pitchfork sobre tudo isto. estejamos atentos, porque não há necessidade de andar iludido com embustes como death grips ou spaceghostpurp. e do pouco que ouvi, também não percebo a euforia em torno das theesatisfaction.

não esqueci as mixes. 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

directos

este texto ao broda era para ter aparecido no bodyspace em cima da data de lançamento, mas por todas as razões para a falta de escrita em tempos recentes que tenho vindo a mencionar, só agora me pareceu decente. também não tinha o mínimo de interesse em fazê-lo de modo displicente.

o catch up às mixes de 2012 tem sido feito de modo brando, mas talvez deixe as que mais se destacam ainda hoje. a entrada da maya jane coles na série dj kicks a encher a tarde com todo o aplomb.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

ainda

sobre os talking heads e sem me querer alongar demasiado :

num determinado ponto considerava-os a minha banda favorita - foi das primeiras bandas que me fez dançar, numa altura em que uma militância indie completamente idiota me impedia inconscientemente de o fazer - ou simplesmente porque quase tudo aquilo que ouvia não o possibilitava*. serviram também como um interlúdio estranhamente adequado para me submergir pelo r&b (curiosamente, foi também por esta altura - 2001, para aí - que comecei a compreender a genialidade do prince, se uma ligação remota fosse necessária). além disso, que melhor disco poderia existir do que remain in light (depois de ter descoberto, pouco tempo antes, o stop making sense a friendly price numa worten) para alguém que, como eu, na altura andava obcecado com noções de experimentalismo em torno da canção?**

* houve também, mais ou menos por essa altura, um período de imersão pelo post-punk circa 78/82 como espaço de manobra para que fosse possível dançar sem me sentir estúpido (enfim, teen angst). todo o aspecto cerebral desse período que é hoje a razão pelo qual não ligo puto a nenhuma dessas bandas - a que não ajudou o revival encabeçado por cenas como os rapture e demais filiações à DFA. com excepção, talvez, no Y de pop group. this heat é outra coisa, obviamente.

** daí a chegada a miss e...so addictive e a todo o mundo de possibilidades consequentes.

breakfast of champions

a ausência total de posts neste espaço desde o balanço trimestral deve-se ao facto de, simplesmente, não ter ouvido qualquer produção recente ao longo destes dias - excepção a armor on, obviamente, e ainda tenho de ouvir new life da monica.

como tal, o tempo tem sido passado com prince, talking heads e police. regressos habituais :

o primeiro deve-se ao facto de ter andado a ler o livro sobre o sign o'the times pelo michaelangelo matos - leitura muito interessante, como seria de esperar, falhando apenas numa melhor articulação entre a descoberta do disco pelo matos em 87 (que poderia ser aprofundada, tendo em conta o facto de ele também ser de minneapolis) e a análise crítica posterior ao mesmo. serviu, acima de tudo - porque sign o'the times já há muito que está no panteão - para dar uma nova oportunidade ao graffiti bridge, e descobrir que apesar do filler normal num disco daquela dimensão - temporal e conceptualmente - existem momentos suficientes para compensar tudo aquilo que é supérfluo : só por canções como 'joy in repetition', 'elephants & flowers' ou 'thieves in the temple' já valeria a pena.*

também motivado pela 33 1/3 - entretanto deve estar a chegar a casa o use your illusion I & II pelo eric weisbard - fui desencantar os três álbuns dos talking heads produzidos pelo brian eno. more songs about buildings and food e fear of music continuam a ser brilhantes, mas remain in light ainda se eleva ligeiramente - por diversas razões, essencialmente técnicas, sobre o qual não me interessa muito estar aqui a discorrer. aguardo com algum ansiedade pelo livro do lethem - chronic city é um fascinante retrato de deriva em NY como já não pensei ser possível fazer - até porque num determinado ponto da minha vida considerava-os a minha banda favorita. ao ouvir estes discos hoje, percebo facilmente porquê.

e deveria haver muito mais amor pelos police. é certo que a voz do sting é potencialmente irritante - acquired taste? - ainda para mais quando se pensa no descalabro que é a carreira a solo, mas existem demasiadas canções incríveis para que se resuma a banda a um par de singles em constante rotação - 'every breath you take' e 'roxanne' levadas ao enjoo. mesmo que não tenham nenhum álbum perfeito - synchronicity e ghost in the machine andam perto, com a plena consciência de arriscarem um pouco mais - há todo um percurso absolutamente singular que merecia ser relembrado com mais frequência. e 'walking on the moon', claro.

*ausência gritante de músicas do prince no youtube. muito provavelmente, retiradas a pedido (ordem?) do próprio. tendo em conta a persona, não é minimamente surpreendente.

^^ post matinal para acompanhar o café. apenas.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

1/4

para já, e sem querer entrar em euforias desmedidas, 2012 está-se a revelar um ano bastante prazenteiro - mesmo que não tenha ouvido assim tanta coisa : assim de cabeça, espero ouvir o disco do red trio com o nate wooley, mountains do mano le tough, o ep do preditah, modern jester do aaron dilloway e mango sunrise de food pyramid em breve. por uma questão de organização interna (ou capricho idiota) prefiro deixar de fora canções dos discos escolhidos :

discos :

dawn richard - armor on
kalenna - chamber of diaries
john talabot - fin
blondes - s/t
mouse on mars - parastrophics
orbital - wonky
young thug - i came from nothing 2
teyana taylor - the misunderstanding of teyana taylor
sutekh hexen - larvae
voices from the lake - s/t
daniel menche - guts
schoolboy q - habits & contradictions
belbury polly - the belbury tales

canções :

melanie fiona ft. sean paul - 4am remix
miguel - adorn / ...all
the dream - kill the lights
usher - climax
flights of fancy - tempo of the night
cham ft. o - tun up
agent sasco - hot
photonz - spectre
bubble club - seven hills
konshens - gun shot a fire
macka diamond - nah fail
demarco - a nuh my fault
lady saw - like mi mate
sky needle - creepertown

misc :

robert truman - flux
kenneth higney - attic demonstration
drexciya - journey of the deep sea dweller 1
iueke - tapes

algumas boas a óptimas mixes, também. entretanto deixo aqui as que mais interessam.

sexta-feira, 30 de março de 2012

toque

a ausência foi-se perpetuando, mas acabou por ser "compensada" com esta review gigantesca a dois discos nascidos das cinzas das dirty money. lendo-a agora, percebo que fui algo precipitado em algumas das ilações mais descritivas, mas sinto-as como verdadeiras, ainda assim. 'armor on' é um daqueles discos que me pode levar facilmente à hipérbole, pelo que vou apenas dizer que é a coisa vinda do r&b que mais me entusiasmou desde, sei lá, 'how to be a lady vol. 1'?

apesar de tudo o resto correr o risco de parecer redundante, 'the misunderstanding of teyana taylor' é uma mixtape de valor. 'art dealer chic vol. 2' do miguel também, mas isso já era expectável. algumas palavras sobre eles em breve.

projectos pendentes não foram esquecidos. a maturar lentamente. amanhã ou domingo, o habitual "balanço" do trimestre.

terça-feira, 13 de março de 2012

ventos

em dias algo tumultuosos, o pouco tempo que é dedicado a ouvir música quer-se o mais confortável possível. daí o regresso a discos familiares - por estes dias têm sido os três primeiros dos r.e.m., rastakraut pasta do moebius com o plank e o in sides dos orbital a ter esse papel de modo mais do que dignificante. este espaço sofre com isso, claro. por ora, e porque já o devia ter feito, deixo duas recomendações de duas pessoas que valem a pena ler :

o joão moço tem mantido o movimentos oblíquos com belos textos sobre aquilo que de mais vital se passa na comédia (e ele é um dos que melhor sabe sobre o assunto) e canções tão importante como a 'kill the lights' do dream.

menos activo, o alexandre elias deixou já algumas impressões interessantes no colpo grosso. mesmo que não ligue puto a games - nunca ouvi o visions, e posso estar enganado, mas a primeiras canções dela não deixaram grande impressão.

o resto do tempo tem-me permitido ver wild palms - objecto singular da televisão do início dos anos 90, talvez a tentar capitalizar a bizarria na ressaca do twin peaks. tem mão do oliver stone, o james belushi no papel principal e está bastante datada, mas tenho um soft spot por este tipo de objectos estilizados (pense-se nos filtros do manhunter do mann ou na plasticidade visual do csi:miami) e por toda a imagética corporativista paranóica e falsamente utópica de uma los angeles pejada de alusões oníricas. há também algo de nostálgico em tudo aquilo = memórias vagas da sua existência. admira-me que não seja objecto de culto em torno de malta embrenhada em torno da hauntology, hypnagogic pop, etc.

talvez a próxima semana seja mais activa por este espaço. há planos. por muito vagos que estes sejam.

terça-feira, 6 de março de 2012

correctivos

ao contrário do que supunha vagamente no meu post anterior, 'hot' não se trata de um riddim do genius, mas antes do dave kelly - tão somente a minha figura preferida em todo o espectro dancehall. o que, enquanto reflexo (afterthought induzido, talvez) acaba por a inserir num continuo lógico com o efeito hipnótico/enevoado, e quase psicadélico no seu sincretismo sintético, das suas últimas produções : overdrive ('rat tat tat' é clássica) ou eighty five*. descobri por via desta versão do cham, pelo que é legítimo esperar por algo do pinchers (apesar do silêncio).

*stage show não tanto, mas é igualmente gigantesco, pelo que deixo aqui a memória.