ob ft. channy angelina – er (fingaprint congo mix)
nascida na crew da invasion records, 'e.r.' lembra-nos como em 2009 - e apesar do meu cepticismo em relação ao facto de ser uma via com espaço para grandes digressões – a uk funky se deixava contaminar pela icyness electro com soberba elegância. de modo particularmente contundente, em duas malhas enormes : remixes do fingaprint para a 'everybody' do rudenko e do ob para a 'domino effect' de addictive. dois anos depois, são novamente eles a revelarem que, e apesar de se manterem algumas reservas, o distanciamento emocional ainda pode ser uma orientação pertinente. neste caso, e apesar de todo o mérito do original no seu amontoado quase-psicadélico de efeitos, congas e percussão rasteira, é a remix do fingaprint que acaba por aproveitar o misterioso factor canção de modo mais dinâmico e eficiente. pelo que não surpreende que fosse essa a versão mais frequente em sets. menos intrincada ritmicamente, 'congo mix' enfatiza a entropia e o desespero desencantado (o amor enquanto doença num jogo de analogias eficaz) da channy angelina recorrendo a uma atmosfera mais rarefeita. serpenteando em torno de um loop ameaçador que desaparece para dar lugar ao tweaking e à percussão, a voz chega ao abismo com aquele “losing me” que se repete antes do breakdown. projectando a queda antes de um crescendo que não é mais do que o perpetuar de toda a tensão subliminar. há também um sample discreto do clássico 'night time in july' lá pelo meio. reaproveitamento consequente, numa malha que acaba por referenciar quase todos os tiques do fingaprint sem fazer disso bandeira.
kendrick lamar – fuck your ethnicity
por esta altura, já todos se deviam ter apercebido que o drake é um dos piores rappers do mundo, e que apesar das tentativas de fazer de take care um disco com uma atmosfera particular, tudo isso cai por terra naquele marasmo de rimas e jogos de palavras boçais. pessoalmente, nem lhe tenho um ódio tão grande como aquele que parece ser a norma (haters gonna hate). antes indiferença (excepto nos cameos irrisórios em malhas que gosto muito como a 'july'), o que é capaz de ser pior. tudo isto para dizer que section 80 consegue (a espaços, e sem se esforçar tanto) convergir as ideias latentes na produção de take care de modo a que estas façam sentido. de resto, não há qualquer ponto de contacto entre o kendrick lamar e o drake. lamar é um rapper de 24 anos da crew black hippy (setbacks do schoolboy q também é merecedor de atenção), que apesar de ser apadrinhado pelo dr. dre não tem nada de g-funk e está mais próximo dos versos rápidos dos bone thugs n harmony. 'fuck your ethnicity' nem será a melhor canção do disco ('a.d.h.d' ou 'kush & corinthians' seriam escolhas mais óbvias, por exemplo), mas escolho-a pelo statement implícito. expondo as características de section 80 logo na primeira malha, 'fuck your ethnicity' revela-o como um loner tecnicamente dotado (sem ser gratuito) pouco preocupado em revelar uma faceta thug, e capaz de fazer da introversão uma coisa menos auto-indulgente do que seria expectável. “had a microphone and i tossed it / had a brain, then i lost it / i'm out of my mind, so don't / you mind how much the cost is / penny for my thoughts / everybody please hold up your wallets”. assente num piano espectral, o instrumental cria uma névoa que se vem a replicar ao longo do álbum para uma coerência que nunca se deixa entorpecer. gosto também muito daquela voz feminina a pairar sobre a canção. e no fundo, aquela “comparação” com o drake não serve para nada. no final de contas, talvez também eu seja um hater.
num ano pobre para o grime (contínuo com 2010), poucas coisas ficam para a posteridade para além da ligação, mais ou menos remota, da absolutamente essencial da tropical 2. e se o preditah se encontra em estado de graça (props para o trabalho da butterz), também é facilmente constatável que, apesar dos falhanços (wrap e parte de ghost writer vs autotune, vol. 10) o trim continua a ser o nome mais coerente a vir do género. tal como já tinha escrito, a produção do trc é bastante louvável, mas acabo por encarar a remix do preditah como a versão definitiva da 'i am'. sem entrar pela hotness desafiante de 'new york' ou 'tropicana', consegue aproveitar com discrição os resquícios de sensualidade deixados em aberto numa produção claramente mais grimey. partilhando o protagonismo com o flow narcótico-infeccioso do trim, a profusão de sintetizadores vai desembaraçando diversas linhas melódicas em confronto benigno. a deixar respirar aquele piano lounge em fundo, e nunca assumindo a cascata harmónica como fim último, mas sim como uma progressão natural com vista panorâmica sobre palmeiras sintéticas. ou algo do género.
ne-yo ft. trey songz & t-pain – the way you move
isto é muito melhor do que eu alguma vez esperava. a melhor coisa vinda do ne-yo em muito, muito tempo, 'the way you move' traz também o t-pain de novo para territórios próximos do brilhantismo de algo como 'i'm in love with a stripper'. no geral todos os versos rendem, cada um à sua maneira - e perdoam-se ao trey songz linhas como “girl if this club was the sky / you're the brightest star” - numa canção formal (que é onde o ne-yo se mostra mais à vontade) onde o coro em “girl you so the truth / can't take my eyes away from you” funciona como um meta-refrão. num cenário (strip club) já amplamente visto, temos aqui três performances credíveis que o tornam, nem que seja só desta vez, numa peça (enquanto gestalt) que faz todo o sentido.
kelly rowland ft. lil wayne - motivation
'motivation' acabou por criar falsas expectativas para o medíocre here i am, mas sempre fez esquecer durante algum tempo os mishaps com a eurodance nascidos no rescaldo da (não tão sofrível quanto isso) 'when love takes over'. sem estar dependente de um vinco de personalidade exagerado da kelly, 'motivation' ganhava pelo encontro de uma sexualidade quase casual da parte dela com um backdrop consonância harmónica. a rarefacção instrumental que faz daquelas gotas gélidas de sintetizador algo tão sensual no seu detachment a la 'me & u', tem réplica com um fraseado controlado que, sem chegar ao sincretismo que uma cassie poderia atingir, consegue ter na voz da kelly um fio condutor mais do que digno. e sem que o lil wayne estrague o brilhantismo da canção. kudos pelo bom senso.
^^ adaptado daqui.
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