quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

quadro de honra #3

porque a lista final só vai mesmo entrar no dia 16, talvez tenha hipótese de acabar isto até lá. vai haver, pelo menos, mais uma ronda :

azealia banks ft. lazy jay – 212

confesso que a primeira vez que ouvi a '212' não pensei nela como uma malha de rap. encarei-a mais com espanto wtf? dance revival num contraponto americano das virtudes galvanizadoras de algo como 'get low', ou 'wile out'. não que pense na azealia como um sucedâneo yankee da dynamite, mas antes pelo tom aggro-dancável da malha em balanço house, o que em termos muito latos a pode levar a um contexto uk funky/2-step, embora a ligação umbilical até exista pela via festiva de 'party in de ghetto' ou 'it takes two' aplicada ao conceito da blog house. leque referencial vasto e vago que, acto contínuo, chega (como bem reparou o tim finney) àquela transversalidade de uma m.i.a. sem necessidade de grande contextualizações espaciais. apesar das qualidades antémicas (sic) de um instrumental que dispensa o peso do baixo, é a entrega da azealia que carrega '212' para o estatuto de banger que fez dela a canção com a nota mais alta na singles jukebox que alguma vez vi. prestação mutante (daí as comparações habituais à nicki minaj) que passa de um tom lacónico e desinteressado a um dramatismo faux-house diva no breakdown para se inflamar num tom contestatário com o regresso da batida, como que a exultar o facto de isto se tratar, acima de tudo, de uma malha para dançar. pensando nisso, a minha primeira impressão nem estava assim tão deslocada da realidade.

champion ft. lee ruby ryder – sensitivity

apesar de alguma estranheza inicial pelo ligeiro abrandamento no isolamento, 'sensitivity' veio-se a revelar um exemplo precioso da capacidade da uk funky de subsistir for do contexto da pista de dança ou de uma mix. 'sensitivity' deixa respirar toda a intrincada rede rítmica para se assumir como uma canção per se, sem instituir qualquer compleição mais corpultenta à batida como via para um imediatismo dançável. mesmo que a linha de baixo se vá desenrolando de modo bem provocante, recalca uma maior euforia para se deixar conduzir numa placidez dinâmica pela voz “sensível” (não poderia evitar, desculpem) da ruby lee ryder (bem distante dos acessos histriónicos da 'full attention'). com o reverb e o eco a enfatizarem toda a dimensão etérea daquela voz que vai deambulando sem se desviar de uma quase-respiração casual, 'sensitivity' deixa-se inundar por um refrão praticamente invisível (como se precedesse a sua chegada) no modo como subtilmente dá sentido a todos os versos. assente num tecido instrumental riquíssimo a fazer lembrar os rendilhados de uma royal p (nota anexa : duas malhas perfeitas e um silêncio absoluto que está a ser impossível colmatar) na sobreposição melódica que dispara em diversas direcções para um efeito de chamamento continuamente misterioso.

gatto fritto – invisible college

centerpiece em torno do qual se organiza o recomendável álbum de estreia de ben williams, 'invisible college' é um épico veraneante por definição. a verdadeira chillin' vibe que se espraia ao longo de 11 minutos, sem arriscar qualquer desvio avant, para chegar em progressão natural à hipnose catchy a que se propõe. malha planante que se vai adensando (camadas de teclados e efeitos) sobre uma guitarra acústica até a um breakdown expectante, só para aparecer novamente numa toada ainda mais breezy. luminosidade harmónica, suspensa numa lógica que é capaz de albergar a balearic beat, a cosmic disco, o psicadelismo ou a autobahn sem recorrer à auto-citação, 'invisible college' é aquele momento sublime que ficou a faltar em prins thomas.

lloyd – naked

ninguém no seu perfeito juízo terá levado muito a sério as informação iniciais na wikipedia que diziam que 'naked' se tratava de uma produção do dr. dre. foi por isso com um alívio recompensador que se veio a saber ser uma produção do polow da don. não só pelo brilhantismo da canção, como por deixar latente a ideia de que poderia estar em curso um comeback do polow depois da quase (?) irrelevância que vinha a palmilhar desde 2007. king of hearts não terá sido disco suficiente para o resgatar, mas fica como marca de que o talento dele não está irremediavelmente perdido. e de que (apesar de momentos sofríveis como 'dedication to my ex (miss that)') a química entre os dois resultou. 'naked' é reveladora dessa simbiose, com o instrumental lânguido a fazer uma cama que aproveita da melhor maneira as virtudes que fazem do lloyd um cantor distinto. um certo distanciamento “emocional” de toda a carga sexual da malha, que se passeia tangente aos floreados discretos de guitarra e trompete, privilegiando a textura em detrimento de uma sensualidade forçada. beleza na contenção.

autechre - skin up, you're already dead

na verdade, isto já remonta à 1994 mas estava confinado ao estatuto de bootleg pelo que a sua edição oficial em 2011 é uma razão mais do que digna para falar dos autechre neste blog. além disso, é um tema gigantesco. embora se trate de uma remix da 'like a motorway' de saint etienne, sean booth e rob brown reconfiguram-na ao ponto de se tornar irreconhecível qualquer traço da original (que é uma óptima canção). 'skin up, you're already dead' soa aos melhores momentos de discos clássicos como amber ou tri-repetae++, o que não será surpreendente tendo em conta que foi feita nesse mesmo timeframe. com o ambiente desolador de 'foil' a servir como pano de fundo para uma groove esparso de percussão na onda de 'rsdio' antes da chegada de uma daquelas memoráveis melodias criadas em isolamento sob a qual vai pulsando uma pattern de sintetizador etéreo que ajudado pelo sample de voz insistente acentua toda a tensão latente. permanecendo numa aura rarefeita que faz desse estado em suspensão o habitat óbvio para algo que na sua demanda pelo vazio emocional, cria todo um espaço mental para projectar a melancolia subliminar de quem (na sua alienação) ainda não esqueceu a existência do ser humano.

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