quarta-feira, 30 de maio de 2012

agora

apesar do silêncio, este blog não morreu. tenho até escrito com alguma frequência para o bodyspace - sempre que possível, isto é. no entanto, não queria atolar isto com mera linkagem (sic) para reviews que, de um modo ou outro se inserem - em toda a sua amplitude e desacerto formal - numa mesma realidade. até ao final da semana procurarei dar-lhes o devido enquadramento contextual, para que essas ideias vagas sobre a "contemporaneidade" assumam um raciocínio minimamente lógico.

naquilo que poderá ser visto como um interlúdio a esses textos, escrevi sobre o disco de memória de peixe. o que me garantiu algum hate mail e palavras jocosas de alguns "fãs" ofendidos com uma opinião contrária. usual.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

assombração



num dos casos raríssimos em que a aleatoriedade da internet se revelou uma coisa boa, dei com esta canção quando fazia uma daquelas pesquisas madrugadoras - pré-sono e motivadas pelo tédio - em torno de algo tão vago como "psychedelic country" : acto contíguo à demanda pelo loner psych, numa tentativa de desencantar alguma pérola em linha com a cosmic american music do gram parsons, o misticismo poeirento do peter grudzien, e claro, notorious byrd brothers. no fundo, um lado da west coast que não estivesse tão preso ao country-rock de raíz de coisas como o gilded palace of sin, buffalo springfield ou mesmo music from big pink, e mais direccionado para uma visão etérea do outlaw country - não necessariamente estrito a esse espaço físico e temporal, até porque o II dos meat puppets é o melhor disco do mundo.

e mesmo que uma canção como 'tumbling tumbleweeds' do michael nesmith tivesse servido o propósito da busca na perfeição, foi esta maravilha vinda - literalmente - de lado nenhum a deixar uma marca muito profunda, enquanto cápsula para tudo aquilo que defendo ao abrigo da definição possível para loner psych. neste caso, psych pode também ser lido como derivação de psychotic, pela carga quase stalker que permeia a canção. como se os aspectos mais downer do roy orbinson - crying, it's over ou leah - se deixassem ao abandono de tonight's the night, sobre uma manta de reverb que dá a tudo isto um sentimento de deslocamento - acentuado pelo riff esquivo da guitarra. curiosamente, a aparente displicência com que é tratado o swing e o som lo-fi, acabam por criar um mindset com a cena outsider folk da oceânia - do pip proud ao alastair galbraith - e claro, com jandek - em particular, blue corpse. a realização deste post anterior numa canção assombrosa - em todos os sentidos da palavra - sem tempo nem lugar, cuja existência parece estar remetida a este link do youtube e a um leilão do 7". sobre a editora - dailey records - não se encontram quaisquer infos, e nem tão pouco há referências à data de edição. um vazio com sentido.

ps: 'love game' no lado b também enorme, embora seja uma citação mais directa ao roy orbinson - ou mesmo aos momentos mais country dos everly brothers. mais luminosa, mas ainda assim com um fundo ligeiramente desesperado a dar-lhe uma certa amargura.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

revoluções?

uma dos meus maiores motivos de felicidade music wise em 2012 foi o facto de wonky dos orbital ser um óptimo disco. o facto de ter saído numa altura em que andava a ouvir o in sides e o snivilization também ajudou ao entusiasmo, mas permitiu-me esquecer a existência do the altogether e do blue album. esperar uma obra-prima dos irmãos hartnoll era injusto e wonky sustenta-se nos seus méritos sem qualquer condescendência. afirmei-o declaradamente.

^^ o que me leva ao facto de que devia escrever sobre o parastrophics dos mouse on mars - pensando em regressos - mas faltam-me ainda ideias mais concretas para escrever algo adequado a uma banda que numa determinada altura foi a minha favorita. importa não perder o momentum.

falando em "bandas favoritas" - termo parvo, eu sei - aproveitei este artigo colectivo em celebração ao 25 de abril para escrever sobre o transient random-noise bursts with anouncements dos stereolab - que é, muito provavelmente o meu disco favorito deles, apesar de um carinho muito especial pelo pobre cobra and phases group play voltage in the milky night. music for the jilted generation foi a minha outra escolha, como que a lembrar como os prodigy foram verdadeiramente grandes. bring back 94?

muito recentemente, e motivado pelo dark york do le1f - que apesar de se arrastar um bom bocado tem umas 6 ou 7 canções de grande valor, como esta - tenho andado a ouvir rap nascido no epicentro queer de NY. 'ima read' é a primeira grande canção saída dessa cena, e escrevi sobre ela no bodyspace aproveitando o facto para linkar um artigo recente na pitchfork sobre tudo isto. estejamos atentos, porque não há necessidade de andar iludido com embustes como death grips ou spaceghostpurp. e do pouco que ouvi, também não percebo a euforia em torno das theesatisfaction.

não esqueci as mixes. 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

directos

este texto ao broda era para ter aparecido no bodyspace em cima da data de lançamento, mas por todas as razões para a falta de escrita em tempos recentes que tenho vindo a mencionar, só agora me pareceu decente. também não tinha o mínimo de interesse em fazê-lo de modo displicente.

o catch up às mixes de 2012 tem sido feito de modo brando, mas talvez deixe as que mais se destacam ainda hoje. a entrada da maya jane coles na série dj kicks a encher a tarde com todo o aplomb.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

ainda

sobre os talking heads e sem me querer alongar demasiado :

num determinado ponto considerava-os a minha banda favorita - foi das primeiras bandas que me fez dançar, numa altura em que uma militância indie completamente idiota me impedia inconscientemente de o fazer - ou simplesmente porque quase tudo aquilo que ouvia não o possibilitava*. serviram também como um interlúdio estranhamente adequado para me submergir pelo r&b (curiosamente, foi também por esta altura - 2001, para aí - que comecei a compreender a genialidade do prince, se uma ligação remota fosse necessária). além disso, que melhor disco poderia existir do que remain in light (depois de ter descoberto, pouco tempo antes, o stop making sense a friendly price numa worten) para alguém que, como eu, na altura andava obcecado com noções de experimentalismo em torno da canção?**

* houve também, mais ou menos por essa altura, um período de imersão pelo post-punk circa 78/82 como espaço de manobra para que fosse possível dançar sem me sentir estúpido (enfim, teen angst). todo o aspecto cerebral desse período que é hoje a razão pelo qual não ligo puto a nenhuma dessas bandas - a que não ajudou o revival encabeçado por cenas como os rapture e demais filiações à DFA. com excepção, talvez, no Y de pop group. this heat é outra coisa, obviamente.

** daí a chegada a miss e...so addictive e a todo o mundo de possibilidades consequentes.

breakfast of champions

a ausência total de posts neste espaço desde o balanço trimestral deve-se ao facto de, simplesmente, não ter ouvido qualquer produção recente ao longo destes dias - excepção a armor on, obviamente, e ainda tenho de ouvir new life da monica.

como tal, o tempo tem sido passado com prince, talking heads e police. regressos habituais :

o primeiro deve-se ao facto de ter andado a ler o livro sobre o sign o'the times pelo michaelangelo matos - leitura muito interessante, como seria de esperar, falhando apenas numa melhor articulação entre a descoberta do disco pelo matos em 87 (que poderia ser aprofundada, tendo em conta o facto de ele também ser de minneapolis) e a análise crítica posterior ao mesmo. serviu, acima de tudo - porque sign o'the times já há muito que está no panteão - para dar uma nova oportunidade ao graffiti bridge, e descobrir que apesar do filler normal num disco daquela dimensão - temporal e conceptualmente - existem momentos suficientes para compensar tudo aquilo que é supérfluo : só por canções como 'joy in repetition', 'elephants & flowers' ou 'thieves in the temple' já valeria a pena.*

também motivado pela 33 1/3 - entretanto deve estar a chegar a casa o use your illusion I & II pelo eric weisbard - fui desencantar os três álbuns dos talking heads produzidos pelo brian eno. more songs about buildings and food e fear of music continuam a ser brilhantes, mas remain in light ainda se eleva ligeiramente - por diversas razões, essencialmente técnicas, sobre o qual não me interessa muito estar aqui a discorrer. aguardo com algum ansiedade pelo livro do lethem - chronic city é um fascinante retrato de deriva em NY como já não pensei ser possível fazer - até porque num determinado ponto da minha vida considerava-os a minha banda favorita. ao ouvir estes discos hoje, percebo facilmente porquê.

e deveria haver muito mais amor pelos police. é certo que a voz do sting é potencialmente irritante - acquired taste? - ainda para mais quando se pensa no descalabro que é a carreira a solo, mas existem demasiadas canções incríveis para que se resuma a banda a um par de singles em constante rotação - 'every breath you take' e 'roxanne' levadas ao enjoo. mesmo que não tenham nenhum álbum perfeito - synchronicity e ghost in the machine andam perto, com a plena consciência de arriscarem um pouco mais - há todo um percurso absolutamente singular que merecia ser relembrado com mais frequência. e 'walking on the moon', claro.

*ausência gritante de músicas do prince no youtube. muito provavelmente, retiradas a pedido (ordem?) do próprio. tendo em conta a persona, não é minimamente surpreendente.

^^ post matinal para acompanhar o café. apenas.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

1/4

para já, e sem querer entrar em euforias desmedidas, 2012 está-se a revelar um ano bastante prazenteiro - mesmo que não tenha ouvido assim tanta coisa : assim de cabeça, espero ouvir o disco do red trio com o nate wooley, mountains do mano le tough, o ep do preditah, modern jester do aaron dilloway e mango sunrise de food pyramid em breve. por uma questão de organização interna (ou capricho idiota) prefiro deixar de fora canções dos discos escolhidos :

discos :

dawn richard - armor on
kalenna - chamber of diaries
john talabot - fin
blondes - s/t
mouse on mars - parastrophics
orbital - wonky
young thug - i came from nothing 2
teyana taylor - the misunderstanding of teyana taylor
sutekh hexen - larvae
voices from the lake - s/t
daniel menche - guts
schoolboy q - habits & contradictions
belbury polly - the belbury tales

canções :

melanie fiona ft. sean paul - 4am remix
miguel - adorn / ...all
the dream - kill the lights
usher - climax
flights of fancy - tempo of the night
cham ft. o - tun up
agent sasco - hot
photonz - spectre
bubble club - seven hills
konshens - gun shot a fire
macka diamond - nah fail
demarco - a nuh my fault
lady saw - like mi mate
sky needle - creepertown

misc :

robert truman - flux
kenneth higney - attic demonstration
drexciya - journey of the deep sea dweller 1
iueke - tapes

algumas boas a óptimas mixes, também. entretanto deixo aqui as que mais interessam.

sexta-feira, 30 de março de 2012

toque

a ausência foi-se perpetuando, mas acabou por ser "compensada" com esta review gigantesca a dois discos nascidos das cinzas das dirty money. lendo-a agora, percebo que fui algo precipitado em algumas das ilações mais descritivas, mas sinto-as como verdadeiras, ainda assim. 'armor on' é um daqueles discos que me pode levar facilmente à hipérbole, pelo que vou apenas dizer que é a coisa vinda do r&b que mais me entusiasmou desde, sei lá, 'how to be a lady vol. 1'?

apesar de tudo o resto correr o risco de parecer redundante, 'the misunderstanding of teyana taylor' é uma mixtape de valor. 'art dealer chic vol. 2' do miguel também, mas isso já era expectável. algumas palavras sobre eles em breve.

projectos pendentes não foram esquecidos. a maturar lentamente. amanhã ou domingo, o habitual "balanço" do trimestre.

terça-feira, 13 de março de 2012

ventos

em dias algo tumultuosos, o pouco tempo que é dedicado a ouvir música quer-se o mais confortável possível. daí o regresso a discos familiares - por estes dias têm sido os três primeiros dos r.e.m., rastakraut pasta do moebius com o plank e o in sides dos orbital a ter esse papel de modo mais do que dignificante. este espaço sofre com isso, claro. por ora, e porque já o devia ter feito, deixo duas recomendações de duas pessoas que valem a pena ler :

o joão moço tem mantido o movimentos oblíquos com belos textos sobre aquilo que de mais vital se passa na comédia (e ele é um dos que melhor sabe sobre o assunto) e canções tão importante como a 'kill the lights' do dream.

menos activo, o alexandre elias deixou já algumas impressões interessantes no colpo grosso. mesmo que não ligue puto a games - nunca ouvi o visions, e posso estar enganado, mas a primeiras canções dela não deixaram grande impressão.

o resto do tempo tem-me permitido ver wild palms - objecto singular da televisão do início dos anos 90, talvez a tentar capitalizar a bizarria na ressaca do twin peaks. tem mão do oliver stone, o james belushi no papel principal e está bastante datada, mas tenho um soft spot por este tipo de objectos estilizados (pense-se nos filtros do manhunter do mann ou na plasticidade visual do csi:miami) e por toda a imagética corporativista paranóica e falsamente utópica de uma los angeles pejada de alusões oníricas. há também algo de nostálgico em tudo aquilo = memórias vagas da sua existência. admira-me que não seja objecto de culto em torno de malta embrenhada em torno da hauntology, hypnagogic pop, etc.

talvez a próxima semana seja mais activa por este espaço. há planos. por muito vagos que estes sejam.

terça-feira, 6 de março de 2012

correctivos

ao contrário do que supunha vagamente no meu post anterior, 'hot' não se trata de um riddim do genius, mas antes do dave kelly - tão somente a minha figura preferida em todo o espectro dancehall. o que, enquanto reflexo (afterthought induzido, talvez) acaba por a inserir num continuo lógico com o efeito hipnótico/enevoado, e quase psicadélico no seu sincretismo sintético, das suas últimas produções : overdrive ('rat tat tat' é clássica) ou eighty five*. descobri por via desta versão do cham, pelo que é legítimo esperar por algo do pinchers (apesar do silêncio).

*stage show não tanto, mas é igualmente gigantesco, pelo que deixo aqui a memória.

sexta-feira, 2 de março de 2012

pontos

ultimamente este espaço tem estado confinado ao despejo de matéria que tenho escrito para o bodyspace. a razão prende-se com a ausência de pensamentos paralelos a tudo o que tenho deixado por lá. todos eles tem sido dedicados a um work in progress em torno do jungle e à leitura do let's talk about love do carl wilson. assim sendo, aqui ficam mais umas coordenadas :

interstellar da frankie rose serviu para (mais uma vez) me aperceber que poderia ter investido melhor o meu tempo, se não passasse tanto tempo enredado no shoegazing. apesar de quatro canções de valor.

fluxus não é um trabalho tão exaustivo quanto chapter eleven no que diz respeito ao digging da obra do robert turman, mas um trabalho tocante de enorme coerência. e presciente secreto de muita coisa (vale o que vale).

por falar em jungle, há uns meses indaguei pelo seapunk para descobrir um throwback decente aos seus tempos de glória, sobre uma cortina oceânica idiota.

pequenos blurbs sobre o primeiro volume da série art dealer chic do miguel e sobre o surpreendente regresso dos orthrelm (e também voltar a constatar a enormidade que é ov).

tenho gostado bastante mais do parastrophics dos mouse on mars do que previa. receios justificados de um fanboy assumido, depois da curva descendente pós-idiology. disco a ser alvo de resenha, em breve.

o álbum de estreia dos blondes tem vindo a ocupar a slot mental exclusiva do fin ao longo do último mês. não será tão imediato/memorável, mas tudo aquilo interessa. e muito.

sendo que andava muito desatento, o ano dancehall arrancou para mim com este colosso do assassin/agent sasco. não sei quem produziu isto, mas há qualquer coisa alienante do genius naqueles synths. duplicity e riva stone são os primeiros grandes riddims que ouvi este ano.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

ruídos vários

ausência gritante ao longo deste mês que gostaria de colmatar*. para já despejo aqui investidas mais recentes no bodyspace :


^^para efeitos icónicos, live in leipzig cumpre o seu propósito, mas o dawn of the black hearts é superior.

com 10 escolhas a parecerem tão escassas é incrível como não está presente nada dos grateful dead (já que falei neles no post anterior), na medida em que são "a" banda live por definição. ponderei escrever sobre o dick's picks 4 (concerto incrível em fillmore), como que a dar descanso ao mítico live dead, mas falta sempre algum metal. outras escolhas que ponderei :

john coltrane - concert in japan (versão de uma hora da 'my favourite things' é assim qualquer coisa de abismal. e o jazz acabou por ficar bem representado)

dire straits - live at bbc (personal fav de há muitos anos. e devia-se ouvir/falar muito mais sobre os dire straits)

tendo em conta a presença do alive 2007 e do domkirke parecem faltar algumas escolhas mais óbvias, claro - nada contra, o meu também entra nesse comprimento de onda - assim de cabeça :

neil young & crazy horse - live rust
talking heads - stop making sense
mc5 - kick out the jams
ac/dc - live
nirvana - unplugged in ny
peter frampton - frampton comes alive (nunca ouvi, mas...)

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regresso aos territórios do noise em muito tempo, através do guts do daniel menche. em breve devo também pegar no flux do robert turman.

*com interlúdios carnavalescos e gripais pelo meio.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

dispersão

com um esforço consciente para não dispersar muito algumas das ideias iniciais (pano para mangas), acabei a minha review ao fin. por todo o lado imperam os elogios. justos.

nas pausas desse disco, a preguiça pôs-me a ouvir os grateful dead (acontecimento sazonal pouco frequente). existe alguma funcionalidade prazenteira em deixar os discos discorrerem durante a tarde, mas cada vez mais me apercebo que são os arranjos tradicionais do workingman's dead a melhor coisa que eles fizeram.

encontrei também duas novas coordenadas na minha everlasting procura pela loner psych que já há muito devia ter explorado :

sempre tinha ignorado o alastair gailbraith porque tinha a impressão de que se tratava de algo na senda outsider garage muito the shaggs como é apanágio na nova zelândia - e para o qual já não tenho muita paciência. falha minha, porque mirrorwork é um disco incrível que descarta esse lado mais primitivo da flying nun por uma contenção que esboça canções numa suspensão fantasma sem fazer desse enviesamento uma razão de ser gratuita. comovente, talvez. assemblage blues deve-lhe muito.

na vizinha austrália e recuando até ao final dos anos 60 - espaço temporal primário de tudo isto - descubro um daqueles gajos amplamente citados, com inevitáveis comparações ao syd barrett ou ao skip spence que, sem razão, nunca tinha ouvido : pip proud que é, desde logo, um nome incrível. com todas as condicionantes para um culto de proporção jandek. loner, acima de tudo.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

entradas

despejando os primeiros escritos do ano, ainda com 2011 no encalço :

shh, dandelions at play não é um grande disco do maurice fulton, mas devia-se falar muito mais nesse senhor. e ouvir isto sempre que possível.


duas novas malhas das duas vozes convidadas no novo (e irrelevante) single da madonna.

uma estreia inusitada pela uk funky feita em portugal.

john talabot em regime de quase-exclusividade por estes dias. review ainda esta semana.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

quadro de honra #4

tendo em conta alguma tendência para a procrastinação e a falta de paciência para algo mais profundo este último draft deixa apenas algumas ideias latentes. porque já era mais do que tempo de acabar com 2011 :

todd edwards - if you want

o radio rip e não a versão do youtube - que será, muito provavelmente, a versão oficial. o gajo é um génio e já todos se deviam ter apercebido disso, não apenas pela influência mestra nos cut-up vocals, mas por ser capaz lhes conferir uma narrativa tão ou mais importante do que as próprias palavras. com aqueles sintetizadores fosforescentes a criarem todo um cenário perfeito para algo que parece implicar sempre uma fuga para a invisibilidade.


abzu não é um disco muito bem conseguido na tentativa de fazer do black metal esotérico da banda texana algo mais directo. faltaram canções memoráveis para que as suas estruturas intrincadas deixassem marca, mas enquanto malha-de-abertura 'earth ripper' conseguiu tudo isso de modo brilhante. ganha logo com aquele grito a la king diamond ao início.


via bodyspace : acabou por se revelar melhor do que aquilo que dou a entender nesse texto. também gostei da remix com o sean paul.


com justiça, estariam aqui todas as malhas da tropical 2. o modo como a mix flui cria um arco narrativo brilhante que se perde com a separação e todos os momentos são incríveis. 'cool down' persiste na memória enquanto recriação da euforia 'show me love'/'push the feeling on' num contexto em que a house é vista numa intercepção bassline/grime.


talvez a primeira grande manifestação dos photonz no sentido de perpetuar a linhagem da kaos circa 94 sem fazer disso um rehash. antes, um fantasma tutelar que veio a lume com mais incidência no recente weo/chunk hiss. reverência latente na entrada daquele synth muito ravey que vai aparecendo sob a primeira melodia para assumir o vórtice emocional da malha.


não sou um conhecedor de cumbia, mas esta malha que descobri num blend do ghetto palms pôs-me a pensar se não deveria investir mais nesse género, supondo que existem mais pérolas destas. de certo modo e sem grandes referências, isto está para a cumbia como nightdubbing estava para os imagination. a tag disto refere que se trata de david lynch cumbiaton. eles saberão melhor que eu.


sem querer entrar pela comparação, 'stranger' é a constatação da capacidade da jhené em insuflar uma balada em desintegração de uma candura aggro sem fazer dela algo soporífero. antes, numa canção capaz de projectar toda a reflexão alienante da letra em todos os sentidos certos.


malha de um classicismo bem swingante, 'love on top' lembra-me um pouco uma versão menos excêntrica da irmã solange, mas é beyoncé de modo irrefutável : um crescendo subtil em torno de mudanças de tom com a voz dela a responder num acerto harmónico brilhante. 'countdown' já era enorme no modo como alinhava sopros e percussão caribeña sem se fazer declaradamente ao dancehall, mas passou a ser ainda melhor depois de ter visto o video.


passando as memórias iniciais do michael nyman, 'snowflake' consegue em toda a sua contenção elevar-se ligeiramente acima de todos os outros momentos de 50 words for snow, pela sua obstinação em suspender a melodia do piano para deixar que a voz da kate bush paire sobre tudo isso, como a tal neve que serviu de mote para o disco.


poderia estar aqui qualquer uma das outras duas canções de the story, pelo que a escolha é meramente casual. actualização do technicolor de paisley park sem fazer disso um throwback ao lado mais onírico do r&b. pura classe, e algum receio justificado de que se tenha tratado de um one-off.

+

lee foss - keep my cool
destroyer - the laziest river
wretch 32 - traktor (mike delinquent remix)
andy j & s tee - spiralling
rudimental ft. shantie - deep in the valley
p money & blacks - boo you
tosh - bad girl
young bleed - holla at uh dog
krallice - the clearing
bubble club - the goddess

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

setback #2

a falhar redondamente nas "promessas". existe ainda a possibilidade de deixar amanhã os restantes blurbs (e deixar, ainda assim, muito coisa de fora), mas pode também cair por terra - nesse caso, deixaria a coisa listada, apenas. de qualquer das formas, posso afirmar que já entrei em 2012. ƒin é a prova.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

setback

tenho tido uns problemas no computador que me têm impedido de deixar aqui os restantes blurbs. conto que isso fique resolvido hoje ou amanhã. de qualquer maneira, segunda feira sai o top 10 no bodyspace. finalmente.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

quadro de honra #3

porque a lista final só vai mesmo entrar no dia 16, talvez tenha hipótese de acabar isto até lá. vai haver, pelo menos, mais uma ronda :

azealia banks ft. lazy jay – 212

confesso que a primeira vez que ouvi a '212' não pensei nela como uma malha de rap. encarei-a mais com espanto wtf? dance revival num contraponto americano das virtudes galvanizadoras de algo como 'get low', ou 'wile out'. não que pense na azealia como um sucedâneo yankee da dynamite, mas antes pelo tom aggro-dancável da malha em balanço house, o que em termos muito latos a pode levar a um contexto uk funky/2-step, embora a ligação umbilical até exista pela via festiva de 'party in de ghetto' ou 'it takes two' aplicada ao conceito da blog house. leque referencial vasto e vago que, acto contínuo, chega (como bem reparou o tim finney) àquela transversalidade de uma m.i.a. sem necessidade de grande contextualizações espaciais. apesar das qualidades antémicas (sic) de um instrumental que dispensa o peso do baixo, é a entrega da azealia que carrega '212' para o estatuto de banger que fez dela a canção com a nota mais alta na singles jukebox que alguma vez vi. prestação mutante (daí as comparações habituais à nicki minaj) que passa de um tom lacónico e desinteressado a um dramatismo faux-house diva no breakdown para se inflamar num tom contestatário com o regresso da batida, como que a exultar o facto de isto se tratar, acima de tudo, de uma malha para dançar. pensando nisso, a minha primeira impressão nem estava assim tão deslocada da realidade.

champion ft. lee ruby ryder – sensitivity

apesar de alguma estranheza inicial pelo ligeiro abrandamento no isolamento, 'sensitivity' veio-se a revelar um exemplo precioso da capacidade da uk funky de subsistir for do contexto da pista de dança ou de uma mix. 'sensitivity' deixa respirar toda a intrincada rede rítmica para se assumir como uma canção per se, sem instituir qualquer compleição mais corpultenta à batida como via para um imediatismo dançável. mesmo que a linha de baixo se vá desenrolando de modo bem provocante, recalca uma maior euforia para se deixar conduzir numa placidez dinâmica pela voz “sensível” (não poderia evitar, desculpem) da ruby lee ryder (bem distante dos acessos histriónicos da 'full attention'). com o reverb e o eco a enfatizarem toda a dimensão etérea daquela voz que vai deambulando sem se desviar de uma quase-respiração casual, 'sensitivity' deixa-se inundar por um refrão praticamente invisível (como se precedesse a sua chegada) no modo como subtilmente dá sentido a todos os versos. assente num tecido instrumental riquíssimo a fazer lembrar os rendilhados de uma royal p (nota anexa : duas malhas perfeitas e um silêncio absoluto que está a ser impossível colmatar) na sobreposição melódica que dispara em diversas direcções para um efeito de chamamento continuamente misterioso.

gatto fritto – invisible college

centerpiece em torno do qual se organiza o recomendável álbum de estreia de ben williams, 'invisible college' é um épico veraneante por definição. a verdadeira chillin' vibe que se espraia ao longo de 11 minutos, sem arriscar qualquer desvio avant, para chegar em progressão natural à hipnose catchy a que se propõe. malha planante que se vai adensando (camadas de teclados e efeitos) sobre uma guitarra acústica até a um breakdown expectante, só para aparecer novamente numa toada ainda mais breezy. luminosidade harmónica, suspensa numa lógica que é capaz de albergar a balearic beat, a cosmic disco, o psicadelismo ou a autobahn sem recorrer à auto-citação, 'invisible college' é aquele momento sublime que ficou a faltar em prins thomas.

lloyd – naked

ninguém no seu perfeito juízo terá levado muito a sério as informação iniciais na wikipedia que diziam que 'naked' se tratava de uma produção do dr. dre. foi por isso com um alívio recompensador que se veio a saber ser uma produção do polow da don. não só pelo brilhantismo da canção, como por deixar latente a ideia de que poderia estar em curso um comeback do polow depois da quase (?) irrelevância que vinha a palmilhar desde 2007. king of hearts não terá sido disco suficiente para o resgatar, mas fica como marca de que o talento dele não está irremediavelmente perdido. e de que (apesar de momentos sofríveis como 'dedication to my ex (miss that)') a química entre os dois resultou. 'naked' é reveladora dessa simbiose, com o instrumental lânguido a fazer uma cama que aproveita da melhor maneira as virtudes que fazem do lloyd um cantor distinto. um certo distanciamento “emocional” de toda a carga sexual da malha, que se passeia tangente aos floreados discretos de guitarra e trompete, privilegiando a textura em detrimento de uma sensualidade forçada. beleza na contenção.

autechre - skin up, you're already dead

na verdade, isto já remonta à 1994 mas estava confinado ao estatuto de bootleg pelo que a sua edição oficial em 2011 é uma razão mais do que digna para falar dos autechre neste blog. além disso, é um tema gigantesco. embora se trate de uma remix da 'like a motorway' de saint etienne, sean booth e rob brown reconfiguram-na ao ponto de se tornar irreconhecível qualquer traço da original (que é uma óptima canção). 'skin up, you're already dead' soa aos melhores momentos de discos clássicos como amber ou tri-repetae++, o que não será surpreendente tendo em conta que foi feita nesse mesmo timeframe. com o ambiente desolador de 'foil' a servir como pano de fundo para uma groove esparso de percussão na onda de 'rsdio' antes da chegada de uma daquelas memoráveis melodias criadas em isolamento sob a qual vai pulsando uma pattern de sintetizador etéreo que ajudado pelo sample de voz insistente acentua toda a tensão latente. permanecendo numa aura rarefeita que faz desse estado em suspensão o habitat óbvio para algo que na sua demanda pelo vazio emocional, cria todo um espaço mental para projectar a melancolia subliminar de quem (na sua alienação) ainda não esqueceu a existência do ser humano.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

quadro de honra #2

ob ft. channy angelina – er (fingaprint congo mix)

nascida na crew da invasion records, 'e.r.' lembra-nos como em 2009 - e apesar do meu cepticismo em relação ao facto de ser uma via com espaço para grandes digressões – a uk funky se deixava contaminar pela icyness electro com soberba elegância. de modo particularmente contundente, em duas malhas enormes : remixes do fingaprint para a 'everybody' do rudenko e do ob para a 'domino effect' de addictive. dois anos depois, são novamente eles a revelarem que, e apesar de se manterem algumas reservas, o distanciamento emocional ainda pode ser uma orientação pertinente. neste caso, e apesar de todo o mérito do original no seu amontoado quase-psicadélico de efeitos, congas e percussão rasteira, é a remix do fingaprint que acaba por aproveitar o misterioso factor canção de modo mais dinâmico e eficiente. pelo que não surpreende que fosse essa a versão mais frequente em sets. menos intrincada ritmicamente, 'congo mix' enfatiza a entropia e o desespero desencantado (o amor enquanto doença num jogo de analogias eficaz) da channy angelina recorrendo a uma atmosfera mais rarefeita. serpenteando em torno de um loop ameaçador que desaparece para dar lugar ao tweaking e à percussão, a voz chega ao abismo com aquele “losing me” que se repete antes do breakdown. projectando a queda antes de um crescendo que não é mais do que o perpetuar de toda a tensão subliminar. há também um sample discreto do clássico 'night time in july' lá pelo meio. reaproveitamento consequente, numa malha que acaba por referenciar quase todos os tiques do fingaprint sem fazer disso bandeira.

kendrick lamar – fuck your ethnicity

por esta altura, já todos se deviam ter apercebido que o drake é um dos piores rappers do mundo, e que apesar das tentativas de fazer de take care um disco com uma atmosfera particular, tudo isso cai por terra naquele marasmo de rimas e jogos de palavras boçais. pessoalmente, nem lhe tenho um ódio tão grande como aquele que parece ser a norma (haters gonna hate). antes indiferença (excepto nos cameos irrisórios em malhas que gosto muito como a 'july'), o que é capaz de ser pior. tudo isto para dizer que section 80 consegue (a espaços, e sem se esforçar tanto) convergir as ideias latentes na produção de take care de modo a que estas façam sentido. de resto, não há qualquer ponto de contacto entre o kendrick lamar e o drake. lamar é um rapper de 24 anos da crew black hippy (setbacks do schoolboy q também é merecedor de atenção), que apesar de ser apadrinhado pelo dr. dre não tem nada de g-funk e está mais próximo dos versos rápidos dos bone thugs n harmony. 'fuck your ethnicity' nem será a melhor canção do disco ('a.d.h.d' ou 'kush & corinthians' seriam escolhas mais óbvias, por exemplo), mas escolho-a pelo statement implícito. expondo as características de section 80 logo na primeira malha, 'fuck your ethnicity' revela-o como um loner tecnicamente dotado (sem ser gratuito) pouco preocupado em revelar uma faceta thug, e capaz de fazer da introversão uma coisa menos auto-indulgente do que seria expectável. “had a microphone and i tossed it / had a brain, then i lost it / i'm out of my mind, so don't / you mind how much the cost is / penny for my thoughts / everybody please hold up your wallets”. assente num piano espectral, o instrumental cria uma névoa que se vem a replicar ao longo do álbum para uma coerência que nunca se deixa entorpecer. gosto também muito daquela voz feminina a pairar sobre a canção. e no fundo, aquela “comparação” com o drake não serve para nada. no final de contas, talvez também eu seja um hater.

trim – i am (preditah remix)


num ano pobre para o grime (contínuo com 2010), poucas coisas ficam para a posteridade para além da ligação, mais ou menos remota, da absolutamente essencial da tropical 2. e se o preditah se encontra em estado de graça (props para o trabalho da butterz), também é facilmente constatável que, apesar dos falhanços (wrap e parte de ghost writer vs autotune, vol. 10) o trim continua a ser o nome mais coerente a vir do género. tal como já tinha escrito, a produção do trc é bastante louvável, mas acabo por encarar a remix do preditah como a versão definitiva da 'i am'. sem entrar pela hotness desafiante de 'new york' ou 'tropicana', consegue aproveitar com discrição os resquícios de sensualidade deixados em aberto numa produção claramente mais grimey. partilhando o protagonismo com o flow narcótico-infeccioso do trim, a profusão de sintetizadores vai desembaraçando diversas linhas melódicas em confronto benigno. a deixar respirar aquele piano lounge em fundo, e nunca assumindo a cascata harmónica como fim último, mas sim como uma progressão natural com vista panorâmica sobre palmeiras sintéticas. ou algo do género.

ne-yo ft. trey songz & t-pain – the way you move

isto é muito melhor do que eu alguma vez esperava. a melhor coisa vinda do ne-yo em muito, muito tempo, 'the way you move' traz também o t-pain de novo para territórios próximos do brilhantismo de algo como 'i'm in love with a stripper'. no geral todos os versos rendem, cada um à sua maneira - e perdoam-se ao trey songz linhas como “girl if this club was the sky / you're the brightest star” - numa canção formal (que é onde o ne-yo se mostra mais à vontade) onde o coro em “girl you so the truth / can't take my eyes away from you” funciona como um meta-refrão. num cenário (strip club) já amplamente visto, temos aqui três performances credíveis que o tornam, nem que seja só desta vez, numa peça (enquanto gestalt) que faz todo o sentido.

kelly rowland ft. lil wayne - motivation

'motivation' acabou por criar falsas expectativas para o medíocre here i am, mas sempre fez esquecer durante algum tempo os mishaps com a eurodance nascidos no rescaldo da (não tão sofrível quanto isso) 'when love takes over'. sem estar dependente de um vinco de personalidade exagerado da kelly, 'motivation' ganhava pelo encontro de uma sexualidade quase casual da parte dela com um backdrop consonância harmónica. a rarefacção instrumental que faz daquelas gotas gélidas de sintetizador algo tão sensual no seu detachment a la 'me & u', tem réplica com um fraseado controlado que, sem chegar ao sincretismo que uma cassie poderia atingir, consegue ter na voz da kelly um fio condutor mais do que digno. e sem que o lil wayne estrague o brilhantismo da canção. kudos pelo bom senso.

^^ adaptado daqui.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

quadro de honra #1

primeira série de cinco canções. os links são para o youtube, soundcloud, etc. mas quem quiser algumas destas canções em mp3 pode sempre pedir-me :

argy – wish you were here (vocal mix)

uma das particularidades da música (não necessariamente dançável = 'new moon' para exemplo recente) herdeira da balearic beat é o facto de poder assentar numa lógica previsível sem que isso seja propriamente sinónimo de falta de ideias ou de um formalismo tépido. quanto muito, esse rigor só torna toda a noção de movimento contínuo ainda mais eficiente, adensando a coisa para a deixar respirar em sucessivas sobreposições em torno de uma linha condutora minimamente memorável. 'wish you were here' impõe-se logo na melodia inicial. sequência de acordes óbvia para deixar latente a ideia de longing que um título como este deixa no ar. há toda uma noção de familiaridade (bastante natural tendo em conta que vem de um ep chamado reminiscence) no modo como essa espinha dorsal se vai repercutindo nas sucessões rítmicas, crescendo sobre si própria com a entrada de uma melodia siamesa, antes do tearjerking de um novo sintetizador replicar a tal ausência que eco da voz insinua. malha óbvia e memorabilia instantânea, 'wish you were here' é um fluxo de nostalgia que toca em todas as virtudes do “género” sem recorrer ao escapismo tour-de-force (tivessem os chillwavers (ainda existe isso?) algum bom senso), nem ao hedonismo alienante. a celebração possível em isolação. aquele tipo de coisas que facilmente me conquista, sem ser necessária grande reinvenção.

gang gang dance – mindkilla

apesar de eye contact superar aos pontos o sobrevalorizado saint dymphna (tarefa simples e não me fodam, 'princes' é risível na tentativa. e qual a necessidade de mais um rip-off ao loveless?), e de algumas canções interessantes lá para o final, para a posteridade ambos reservam duas grandes malhas. 'mindkilla' é a 'first communion' de 2011. canção que se sustenta somente na propulsão rítmica e vai deixando deambular a voz da liz bougatsos e os estalos de teclado antes de chegar a uma primeira melodia que agarre a coisa como um refrão, e a leve até àquela linha de sintetizador absolutamente triunfal. coisa maravilhosa que fica a ecoar na cabeça muito depois de passar e que, à semelhança daquele riff gingão na 'first communion' não volta a aparecer. Infelizmente, ficou a faltar a 'mindkilla' uma coda mais interessante do que a repetição “don't fear the mindkilla / don't be the mindkilla” antes do ritmo descambar no confronto com o sintetizador, mas por volta dos três minutos já a canção tinha ganho, pelo que o resto é apenas uma inevitável descida depois de atingido o zénite.

eastwood – toilet blocker

só pelo conceito imagético, 'toilet blocker' era, por si só, um título tão incrível quanto risível/obnóxio. quando em confronto com todo o potencial galvanizador, esta malha do eastwood chega a uma win-win situation sem necessitar de quaisquer conjecturas. banger absoluto que foi presença constante em quase todos os sets de uk funky ao longo de 2011, 'toilet blocker' deu origem a um momento absolutamente incrível com o rankin e o shantie no programa do marcus nasty de 23 de março. não que a sua existência se justifique somente pela presença de mc's. são apenas elemento bem vindo a algo inescapável. aparecida logo no início do ano (e presente no we r bass), 'toilet blocker' é um instrumental de pleno direito imparável na sua convulsão rítmica : imperam os drum rolls e as tarolas sincopadas, a cavalgar um baixo áspero sem qualquer necessidade de melodia para além de uns toques bem sci-fi de sintetizador. descartando o supérfluo em virtude de uma identidade dançável imperial.

soundgirl – don't know why / don't know why (mike delinquent remix)

'why' já era no original da carly simon uma canção brilhante com produção do nile rodgers (presente na bso do soup for one) com inclinações reggae-lite. daí que a primeira vez que ouvi esta releitura das soundgirl tenha sido o fantasma dos ace of base a assombrar a canção. O que é desde logo bom prenúncio e fez da 'alejandro' a melhor coisa que ouvi da gaga. aqui, o tom ligeiramente enevoado da original dá origem a uma candura cintilante que acaba por ser mais adequada a estas três miúdas britânicas do que o tom quarentão da carly simon (na verdade, um ícone dad-folk mais do que outra coisa qualquer). mesmo sem se desviar muito de 'why' em termos formais, deixa a produção iluminar a voz das soundgirl sem lhes prestar grande atenção para as deixar brilhar com a entrada em uníssono no refrão. concentrando aí todas as atenções (e a fazer esquecer o rapping intrusivo do mann), ao invés de seguir um fluxo contínuo-media res como acontecia na versão original. passou despercebida, como já tinha acontecido com a enorme 'i'm the fool' e cada vez parece mais distante a ideia de um álbum. infelizmente.


por um feliz acaso, descobri no youtube que existia uma remix do mike delinquent. como esperado, revival 2-step como já acontecia na remix dele para a 'traktor' (sobre a qual talvez venha a escrever alguma coisa), com o bom senso de nunca soar meramente revisionista. Automática, no aproveitamento dessa mesma batida clássica e da linha esquelética de sintetizador, mas quase tão eficiente quanto essa no modo como volta a fazer do classicismo 2-step uma coisa memorável e sensual, que não entre pelas armadilhas sorumbáticas do future garage e merdas assim.

vaski - spaceman (dillon francis remix)

torna-se fácil desacreditar de um “género” cuja premissa base é somente desacelerar o ritmo de malhas de dutch house até aos tempos do reggaeton. no fundo, a inversão lógica daquilo que foi o nascer dessa primeira leva toda esta tendência para os campos de um rehash que não faria o mínimo sentido, não fosse tudo isto desprovido de qualquer tendência para o militantismo ou prepotência referencial. no caso do moonbathon (explicação para o nome na entrevista linkada mais abaixo) estamos num campo ignorante do pós-modernismo, da pós-ironia e de toda uma contextualização intelectualizada, nascido no seio do fenómeno das skipping parties e que cujos interesses convergem sempre na celebração (por muito chessy que possa ser). do modo mais pueril possível (ou assim o prefiro pensar). claro que tudo isto poderá sempre encarreirar no “temido” hype (e a sombra oportunista do diplo já paira por aqui), mas por agora poucas coisas me fariam mover mais as ancas do que apanhar a remix do dillon francis para o dubstep bovino desta 'spaceman', numa discoteca de praia a cheirar a creme hidratante. tão simples quanto isso, e com plena consciência da sazonalidade e do vazio da cena. apesar de malhas como a 'masta blasta', a remix para a 'take it back' ou mesmo o já clássico 'moonbathon' do dave nada serem escolhas mais óbvias, 'spaceman' eleva-se na sua condição de party anthem por toda uma melancolia subliminar patente no néon rafeiro do sintetizador. transformando uma produção tendencialmente genérica em algo que se revela continuamente no seu âmago com a chegada de novos factores (como o breakdown prematuro que desemboca naquele wooble púrpura). nocturna e urbana, não é o elogio ao calor mais natural do género, mas um óptimo exemplo de que uma batida pode ser aquilo que o quisermos.

^^texto incluído neste feature do bodyspace. daí o desfasamento temporal.

capitular

algo atrasado nas escolhas das canções que (também) interessam de 2011. tendo em conta que o top 10 sai já na próxima segunda feira no bodyspace, é provável que só acabe a empreitada depois dessas serem conhecidas. talvez ainda hoje deixe os primeiros blurbs. talvez.

entretanto e para matar aquilo que já devia ter sido esquecido (embora 2011 ainda faça por respirar), resta-me arrematar o ano com as duas maiores obsessões do passado que me assombraram ao longo dos últimos 12 meses :

a tentativa infrutífera de um conceito em torno da noção vaga de loner-psych : redescobrir o quanto o gene clark foi absolutamente genial. perceber como o lifestyle excessivo e a inevitável desilusão em torno da cena singer-songwriter de los angeles se transmutou numa linguagem proto-balear que iria desembocar em coisas como o yacht rock (2012 será o ano para aprofundar os steely dan). em consonância com a leitura do hotel california. traçar os paralelos possíveis e imaginários com a folk britânica além do surrealismo ácido de pearls before swine e da incredible string band (wizz jones, michael chapman, etc). saber que o II dos meat puppets é o melhor disco do mundo. e que a estrada nacional é cenário loner por excelência.

a submersão no período de ouro do jungle (92-95), e incontáveis horas a redescobrir bangers brilhantes e a vasculhar no baú de memórias dos "tempos da rádio pirata". a surpreendente mix de raime para a fact. pensar diversas vezes em deixar aqui uma compilação das minhas malhas favoritas e nunca o fazer por a) falta de paciência b) uma dificuldade imensa em escolher apenas alguns temas sem tornar a coisa num rar. estupidamente maçudo. em havendo vontade de alguém que lê isto, pode ser feito. se alguém lê isto.

e as minhas últimas reviews de 2011, a dois dos meus gajos preferidos nos últimos anos. daniel e james.