quarta-feira, 30 de maio de 2012
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quarta-feira, 9 de maio de 2012
assombração
quinta-feira, 26 de abril de 2012
revoluções?
quarta-feira, 18 de abril de 2012
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quinta-feira, 12 de abril de 2012
ainda
breakfast of champions
segunda-feira, 2 de abril de 2012
1/4
sexta-feira, 30 de março de 2012
toque
terça-feira, 13 de março de 2012
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terça-feira, 6 de março de 2012
correctivos
sexta-feira, 2 de março de 2012
pontos
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
ruídos vários
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
dispersão
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
entradas
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
quadro de honra #4
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
setback #2
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
setback
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
quadro de honra #3
azealia banks ft. lazy jay – 212
confesso que a primeira vez que ouvi a '212' não pensei nela como uma malha de rap. encarei-a mais com espanto wtf? dance revival num contraponto americano das virtudes galvanizadoras de algo como 'get low', ou 'wile out'. não que pense na azealia como um sucedâneo yankee da dynamite, mas antes pelo tom aggro-dancável da malha em balanço house, o que em termos muito latos a pode levar a um contexto uk funky/2-step, embora a ligação umbilical até exista pela via festiva de 'party in de ghetto' ou 'it takes two' aplicada ao conceito da blog house. leque referencial vasto e vago que, acto contínuo, chega (como bem reparou o tim finney) àquela transversalidade de uma m.i.a. sem necessidade de grande contextualizações espaciais. apesar das qualidades antémicas (sic) de um instrumental que dispensa o peso do baixo, é a entrega da azealia que carrega '212' para o estatuto de banger que fez dela a canção com a nota mais alta na singles jukebox que alguma vez vi. prestação mutante (daí as comparações habituais à nicki minaj) que passa de um tom lacónico e desinteressado a um dramatismo faux-house diva no breakdown para se inflamar num tom contestatário com o regresso da batida, como que a exultar o facto de isto se tratar, acima de tudo, de uma malha para dançar. pensando nisso, a minha primeira impressão nem estava assim tão deslocada da realidade.
champion ft. lee ruby ryder – sensitivity
apesar de alguma estranheza inicial pelo ligeiro abrandamento no isolamento, 'sensitivity' veio-se a revelar um exemplo precioso da capacidade da uk funky de subsistir for do contexto da pista de dança ou de uma mix. 'sensitivity' deixa respirar toda a intrincada rede rítmica para se assumir como uma canção per se, sem instituir qualquer compleição mais corpultenta à batida como via para um imediatismo dançável. mesmo que a linha de baixo se vá desenrolando de modo bem provocante, recalca uma maior euforia para se deixar conduzir numa placidez dinâmica pela voz “sensível” (não poderia evitar, desculpem) da ruby lee ryder (bem distante dos acessos histriónicos da 'full attention'). com o reverb e o eco a enfatizarem toda a dimensão etérea daquela voz que vai deambulando sem se desviar de uma quase-respiração casual, 'sensitivity' deixa-se inundar por um refrão praticamente invisível (como se precedesse a sua chegada) no modo como subtilmente dá sentido a todos os versos. assente num tecido instrumental riquíssimo a fazer lembrar os rendilhados de uma royal p (nota anexa : duas malhas perfeitas e um silêncio absoluto que está a ser impossível colmatar) na sobreposição melódica que dispara em diversas direcções para um efeito de chamamento continuamente misterioso.
gatto fritto – invisible college
centerpiece em torno do qual se organiza o recomendável álbum de estreia de ben williams, 'invisible college' é um épico veraneante por definição. a verdadeira chillin' vibe que se espraia ao longo de 11 minutos, sem arriscar qualquer desvio avant, para chegar em progressão natural à hipnose catchy a que se propõe. malha planante que se vai adensando (camadas de teclados e efeitos) sobre uma guitarra acústica até a um breakdown expectante, só para aparecer novamente numa toada ainda mais breezy. luminosidade harmónica, suspensa numa lógica que é capaz de albergar a balearic beat, a cosmic disco, o psicadelismo ou a autobahn sem recorrer à auto-citação, 'invisible college' é aquele momento sublime que ficou a faltar em prins thomas.
lloyd – naked
ninguém no seu perfeito juízo terá levado muito a sério as informação iniciais na wikipedia que diziam que 'naked' se tratava de uma produção do dr. dre. foi por isso com um alívio recompensador que se veio a saber ser uma produção do polow da don. não só pelo brilhantismo da canção, como por deixar latente a ideia de que poderia estar em curso um comeback do polow depois da quase (?) irrelevância que vinha a palmilhar desde 2007. king of hearts não terá sido disco suficiente para o resgatar, mas fica como marca de que o talento dele não está irremediavelmente perdido. e de que (apesar de momentos sofríveis como 'dedication to my ex (miss that)') a química entre os dois resultou. 'naked' é reveladora dessa simbiose, com o instrumental lânguido a fazer uma cama que aproveita da melhor maneira as virtudes que fazem do lloyd um cantor distinto. um certo distanciamento “emocional” de toda a carga sexual da malha, que se passeia tangente aos floreados discretos de guitarra e trompete, privilegiando a textura em detrimento de uma sensualidade forçada. beleza na contenção.
autechre - skin up, you're already dead
na verdade, isto já remonta à 1994 mas estava confinado ao estatuto de bootleg pelo que a sua edição oficial em 2011 é uma razão mais do que digna para falar dos autechre neste blog. além disso, é um tema gigantesco. embora se trate de uma remix da 'like a motorway' de saint etienne, sean booth e rob brown reconfiguram-na ao ponto de se tornar irreconhecível qualquer traço da original (que é uma óptima canção). 'skin up, you're already dead' soa aos melhores momentos de discos clássicos como amber ou tri-repetae++, o que não será surpreendente tendo em conta que foi feita nesse mesmo timeframe. com o ambiente desolador de 'foil' a servir como pano de fundo para uma groove esparso de percussão na onda de 'rsdio' antes da chegada de uma daquelas memoráveis melodias criadas em isolamento sob a qual vai pulsando uma pattern de sintetizador etéreo que ajudado pelo sample de voz insistente acentua toda a tensão latente. permanecendo numa aura rarefeita que faz desse estado em suspensão o habitat óbvio para algo que na sua demanda pelo vazio emocional, cria todo um espaço mental para projectar a melancolia subliminar de quem (na sua alienação) ainda não esqueceu a existência do ser humano.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
quadro de honra #2
ob ft. channy angelina – er (fingaprint congo mix)
nascida na crew da invasion records, 'e.r.' lembra-nos como em 2009 - e apesar do meu cepticismo em relação ao facto de ser uma via com espaço para grandes digressões – a uk funky se deixava contaminar pela icyness electro com soberba elegância. de modo particularmente contundente, em duas malhas enormes : remixes do fingaprint para a 'everybody' do rudenko e do ob para a 'domino effect' de addictive. dois anos depois, são novamente eles a revelarem que, e apesar de se manterem algumas reservas, o distanciamento emocional ainda pode ser uma orientação pertinente. neste caso, e apesar de todo o mérito do original no seu amontoado quase-psicadélico de efeitos, congas e percussão rasteira, é a remix do fingaprint que acaba por aproveitar o misterioso factor canção de modo mais dinâmico e eficiente. pelo que não surpreende que fosse essa a versão mais frequente em sets. menos intrincada ritmicamente, 'congo mix' enfatiza a entropia e o desespero desencantado (o amor enquanto doença num jogo de analogias eficaz) da channy angelina recorrendo a uma atmosfera mais rarefeita. serpenteando em torno de um loop ameaçador que desaparece para dar lugar ao tweaking e à percussão, a voz chega ao abismo com aquele “losing me” que se repete antes do breakdown. projectando a queda antes de um crescendo que não é mais do que o perpetuar de toda a tensão subliminar. há também um sample discreto do clássico 'night time in july' lá pelo meio. reaproveitamento consequente, numa malha que acaba por referenciar quase todos os tiques do fingaprint sem fazer disso bandeira.
kendrick lamar – fuck your ethnicity
por esta altura, já todos se deviam ter apercebido que o drake é um dos piores rappers do mundo, e que apesar das tentativas de fazer de take care um disco com uma atmosfera particular, tudo isso cai por terra naquele marasmo de rimas e jogos de palavras boçais. pessoalmente, nem lhe tenho um ódio tão grande como aquele que parece ser a norma (haters gonna hate). antes indiferença (excepto nos cameos irrisórios em malhas que gosto muito como a 'july'), o que é capaz de ser pior. tudo isto para dizer que section 80 consegue (a espaços, e sem se esforçar tanto) convergir as ideias latentes na produção de take care de modo a que estas façam sentido. de resto, não há qualquer ponto de contacto entre o kendrick lamar e o drake. lamar é um rapper de 24 anos da crew black hippy (setbacks do schoolboy q também é merecedor de atenção), que apesar de ser apadrinhado pelo dr. dre não tem nada de g-funk e está mais próximo dos versos rápidos dos bone thugs n harmony. 'fuck your ethnicity' nem será a melhor canção do disco ('a.d.h.d' ou 'kush & corinthians' seriam escolhas mais óbvias, por exemplo), mas escolho-a pelo statement implícito. expondo as características de section 80 logo na primeira malha, 'fuck your ethnicity' revela-o como um loner tecnicamente dotado (sem ser gratuito) pouco preocupado em revelar uma faceta thug, e capaz de fazer da introversão uma coisa menos auto-indulgente do que seria expectável. “had a microphone and i tossed it / had a brain, then i lost it / i'm out of my mind, so don't / you mind how much the cost is / penny for my thoughts / everybody please hold up your wallets”. assente num piano espectral, o instrumental cria uma névoa que se vem a replicar ao longo do álbum para uma coerência que nunca se deixa entorpecer. gosto também muito daquela voz feminina a pairar sobre a canção. e no fundo, aquela “comparação” com o drake não serve para nada. no final de contas, talvez também eu seja um hater.
num ano pobre para o grime (contínuo com 2010), poucas coisas ficam para a posteridade para além da ligação, mais ou menos remota, da absolutamente essencial da tropical 2. e se o preditah se encontra em estado de graça (props para o trabalho da butterz), também é facilmente constatável que, apesar dos falhanços (wrap e parte de ghost writer vs autotune, vol. 10) o trim continua a ser o nome mais coerente a vir do género. tal como já tinha escrito, a produção do trc é bastante louvável, mas acabo por encarar a remix do preditah como a versão definitiva da 'i am'. sem entrar pela hotness desafiante de 'new york' ou 'tropicana', consegue aproveitar com discrição os resquícios de sensualidade deixados em aberto numa produção claramente mais grimey. partilhando o protagonismo com o flow narcótico-infeccioso do trim, a profusão de sintetizadores vai desembaraçando diversas linhas melódicas em confronto benigno. a deixar respirar aquele piano lounge em fundo, e nunca assumindo a cascata harmónica como fim último, mas sim como uma progressão natural com vista panorâmica sobre palmeiras sintéticas. ou algo do género.
ne-yo ft. trey songz & t-pain – the way you move
isto é muito melhor do que eu alguma vez esperava. a melhor coisa vinda do ne-yo em muito, muito tempo, 'the way you move' traz também o t-pain de novo para territórios próximos do brilhantismo de algo como 'i'm in love with a stripper'. no geral todos os versos rendem, cada um à sua maneira - e perdoam-se ao trey songz linhas como “girl if this club was the sky / you're the brightest star” - numa canção formal (que é onde o ne-yo se mostra mais à vontade) onde o coro em “girl you so the truth / can't take my eyes away from you” funciona como um meta-refrão. num cenário (strip club) já amplamente visto, temos aqui três performances credíveis que o tornam, nem que seja só desta vez, numa peça (enquanto gestalt) que faz todo o sentido.
kelly rowland ft. lil wayne - motivation
'motivation' acabou por criar falsas expectativas para o medíocre here i am, mas sempre fez esquecer durante algum tempo os mishaps com a eurodance nascidos no rescaldo da (não tão sofrível quanto isso) 'when love takes over'. sem estar dependente de um vinco de personalidade exagerado da kelly, 'motivation' ganhava pelo encontro de uma sexualidade quase casual da parte dela com um backdrop consonância harmónica. a rarefacção instrumental que faz daquelas gotas gélidas de sintetizador algo tão sensual no seu detachment a la 'me & u', tem réplica com um fraseado controlado que, sem chegar ao sincretismo que uma cassie poderia atingir, consegue ter na voz da kelly um fio condutor mais do que digno. e sem que o lil wayne estrague o brilhantismo da canção. kudos pelo bom senso.
^^ adaptado daqui.
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
quadro de honra #1
argy – wish you were here (vocal mix)
uma das particularidades da música (não necessariamente dançável = 'new moon' para exemplo recente) herdeira da balearic beat é o facto de poder assentar numa lógica previsível sem que isso seja propriamente sinónimo de falta de ideias ou de um formalismo tépido. quanto muito, esse rigor só torna toda a noção de movimento contínuo ainda mais eficiente, adensando a coisa para a deixar respirar em sucessivas sobreposições em torno de uma linha condutora minimamente memorável. 'wish you were here' impõe-se logo na melodia inicial. sequência de acordes óbvia para deixar latente a ideia de longing que um título como este deixa no ar. há toda uma noção de familiaridade (bastante natural tendo em conta que vem de um ep chamado reminiscence) no modo como essa espinha dorsal se vai repercutindo nas sucessões rítmicas, crescendo sobre si própria com a entrada de uma melodia siamesa, antes do tearjerking de um novo sintetizador replicar a tal ausência que eco da voz insinua. malha óbvia e memorabilia instantânea, 'wish you were here' é um fluxo de nostalgia que toca em todas as virtudes do “género” sem recorrer ao escapismo tour-de-force (tivessem os chillwavers (ainda existe isso?) algum bom senso), nem ao hedonismo alienante. a celebração possível em isolação. aquele tipo de coisas que facilmente me conquista, sem ser necessária grande reinvenção.
apesar de eye contact superar aos pontos o sobrevalorizado saint dymphna (tarefa simples e não me fodam, 'princes' é risível na tentativa. e qual a necessidade de mais um rip-off ao loveless?), e de algumas canções interessantes lá para o final, para a posteridade ambos reservam duas grandes malhas. 'mindkilla' é a 'first communion' de 2011. canção que se sustenta somente na propulsão rítmica e vai deixando deambular a voz da liz bougatsos e os estalos de teclado antes de chegar a uma primeira melodia que agarre a coisa como um refrão, e a leve até àquela linha de sintetizador absolutamente triunfal. coisa maravilhosa que fica a ecoar na cabeça muito depois de passar e que, à semelhança daquele riff gingão na 'first communion' não volta a aparecer. Infelizmente, ficou a faltar a 'mindkilla' uma coda mais interessante do que a repetição “don't fear the mindkilla / don't be the mindkilla” antes do ritmo descambar no confronto com o sintetizador, mas por volta dos três minutos já a canção tinha ganho, pelo que o resto é apenas uma inevitável descida depois de atingido o zénite.
só pelo conceito imagético, 'toilet blocker' era, por si só, um título tão incrível quanto risível/obnóxio. quando em confronto com todo o potencial galvanizador, esta malha do eastwood chega a uma win-win situation sem necessitar de quaisquer conjecturas. banger absoluto que foi presença constante em quase todos os sets de uk funky ao longo de 2011, 'toilet blocker' deu origem a um momento absolutamente incrível com o rankin e o shantie no programa do marcus nasty de 23 de março. não que a sua existência se justifique somente pela presença de mc's. são apenas elemento bem vindo a algo inescapável. aparecida logo no início do ano (e presente no we r bass), 'toilet blocker' é um instrumental de pleno direito imparável na sua convulsão rítmica : imperam os drum rolls e as tarolas sincopadas, a cavalgar um baixo áspero sem qualquer necessidade de melodia para além de uns toques bem sci-fi de sintetizador. descartando o supérfluo em virtude de uma identidade dançável imperial.
soundgirl – don't know why / don't know why (mike delinquent remix)
'why' já era no original da carly simon uma canção brilhante com produção do nile rodgers (presente na bso do soup for one) com inclinações reggae-lite. daí que a primeira vez que ouvi esta releitura das soundgirl tenha sido o fantasma dos ace of base a assombrar a canção. O que é desde logo bom prenúncio e fez da 'alejandro' a melhor coisa que ouvi da gaga. aqui, o tom ligeiramente enevoado da original dá origem a uma candura cintilante que acaba por ser mais adequada a estas três miúdas britânicas do que o tom quarentão da carly simon (na verdade, um ícone dad-folk mais do que outra coisa qualquer). mesmo sem se desviar muito de 'why' em termos formais, deixa a produção iluminar a voz das soundgirl sem lhes prestar grande atenção para as deixar brilhar com a entrada em uníssono no refrão. concentrando aí todas as atenções (e a fazer esquecer o rapping intrusivo do mann), ao invés de seguir um fluxo contínuo-media res como acontecia na versão original. passou despercebida, como já tinha acontecido com a enorme 'i'm the fool' e cada vez parece mais distante a ideia de um álbum. infelizmente.
por um feliz acaso, descobri no youtube que existia uma remix do mike delinquent. como esperado, revival 2-step como já acontecia na remix dele para a 'traktor' (sobre a qual talvez venha a escrever alguma coisa), com o bom senso de nunca soar meramente revisionista. Automática, no aproveitamento dessa mesma batida clássica e da linha esquelética de sintetizador, mas quase tão eficiente quanto essa no modo como volta a fazer do classicismo 2-step uma coisa memorável e sensual, que não entre pelas armadilhas sorumbáticas do future garage e merdas assim.
vaski - spaceman (dillon francis remix)
torna-se fácil desacreditar de um “género” cuja premissa base é somente desacelerar o ritmo de malhas de dutch house até aos tempos do reggaeton. no fundo, a inversão lógica daquilo que foi o nascer dessa primeira leva toda esta tendência para os campos de um rehash que não faria o mínimo sentido, não fosse tudo isto desprovido de qualquer tendência para o militantismo ou prepotência referencial. no caso do moonbathon (explicação para o nome na entrevista linkada mais abaixo) estamos num campo ignorante do pós-modernismo, da pós-ironia e de toda uma contextualização intelectualizada, nascido no seio do fenómeno das skipping parties e que cujos interesses convergem sempre na celebração (por muito chessy que possa ser). do modo mais pueril possível (ou assim o prefiro pensar). claro que tudo isto poderá sempre encarreirar no “temido” hype (e a sombra oportunista do diplo já paira por aqui), mas por agora poucas coisas me fariam mover mais as ancas do que apanhar a remix do dillon francis para o dubstep bovino desta 'spaceman', numa discoteca de praia a cheirar a creme hidratante. tão simples quanto isso, e com plena consciência da sazonalidade e do vazio da cena. apesar de malhas como a 'masta blasta', a remix para a 'take it back' ou mesmo o já clássico 'moonbathon' do dave nada serem escolhas mais óbvias, 'spaceman' eleva-se na sua condição de party anthem por toda uma melancolia subliminar patente no néon rafeiro do sintetizador. transformando uma produção tendencialmente genérica em algo que se revela continuamente no seu âmago com a chegada de novos factores (como o breakdown prematuro que desemboca naquele wooble púrpura). nocturna e urbana, não é o elogio ao calor mais natural do género, mas um óptimo exemplo de que uma batida pode ser aquilo que o quisermos.
^^texto incluído neste feature do bodyspace. daí o desfasamento temporal.
capitular
entretanto e para matar aquilo que já devia ter sido esquecido (embora 2011 ainda faça por respirar), resta-me arrematar o ano com as duas maiores obsessões do passado que me assombraram ao longo dos últimos 12 meses :
a tentativa infrutífera de um conceito em torno da noção vaga de loner-psych : redescobrir o quanto o gene clark foi absolutamente genial. perceber como o lifestyle excessivo e a inevitável desilusão em torno da cena singer-songwriter de los angeles se transmutou numa linguagem proto-balear que iria desembocar em coisas como o yacht rock (2012 será o ano para aprofundar os steely dan). em consonância com a leitura do hotel california. traçar os paralelos possíveis e imaginários com a folk britânica além do surrealismo ácido de pearls before swine e da incredible string band (wizz jones, michael chapman, etc). saber que o II dos meat puppets é o melhor disco do mundo. e que a estrada nacional é cenário loner por excelência.
a submersão no período de ouro do jungle (92-95), e incontáveis horas a redescobrir bangers brilhantes e a vasculhar no baú de memórias dos "tempos da rádio pirata". a surpreendente mix de raime para a fact. pensar diversas vezes em deixar aqui uma compilação das minhas malhas favoritas e nunca o fazer por a) falta de paciência b) uma dificuldade imensa em escolher apenas alguns temas sem tornar a coisa num rar. estupidamente maçudo. em havendo vontade de alguém que lê isto, pode ser feito. se alguém lê isto.
e as minhas últimas reviews de 2011, a dois dos meus gajos preferidos nos últimos anos. daniel e james.