terça-feira, 31 de agosto de 2010

sublinhar

ainda na senda dos meus posts anteriores, constato que tanto o take me back da fantasia como o ep da teairra mari são mais duas belas adições ao cannon r'n'b deste ano. ou seja, fui mesmo exagerado.

o primeiro consegue ultrapassar o facto da fantasia ter uma voz genérica, com recurso a um cuidado particular na escrita das canções e o bom senso de não recorrer a acrobacias vocais inusitadas só para tentar escapar a esse mesmo aspecto incaracterístico. sincerely yours é uma aposta estranha num formato (quase sempre) remetido ao itunes sem qualquer promoção. poderia não ter justificação aparente com point of no return ainda fresquíssimo. e na obscuridade. mas dada a qualidade dos temas inclusos, dispersos por leaks, poderá até ser uma boa (embora subtil) chamada de atenção, agora que o regresso se afigura cada vez mais tangível. embora não preveja grande aparato em torno disso mesmo. ainda assim, a promoção nunca foi em demasia. nestes casos, entenda-se.


terça-feira, 17 de agosto de 2010

rasurar

talvez tenha sido algo exagerado quando afirmei que o r'n'b se encontra num estado lacónico. comparativamente a anos transactos, 2010 até tem sido um ano bastante aceitável para o género. love king é óptimo, e o disco da monica deveria ser ouvido por muito mais gente. com 'skydiver' da cassie a elevar-se acima de tudo aquilo o que ouvi este ano, para além do classicismo formal, mas eficaz, de 'holding you down (goin' in circles)' e de parte de what's the 901 da k michelle (quando não incorre numa ferocidade over-the-top demasiado estilizada), seria injusto referenciar o ano como mais um passo numa curva descendente que já vem de 2005.

^^uma vez que ainda não ouvi raymond vs. raymond do usher (gostei da sumptuosidade da 'little freak'. no entanto a nikki minaj reitera para si grande parte do fascínio), the archandroid ou a mixtape da teairra mari, tudo aponta para um salto qualitativo ligeiro, mas notório. embora nada bata how to be a lady, vol. 1.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

visibilidade

já que estamos neste campo, e sem querer entrar pela exploração nevrálgica de razões potenciais para a ausência, acho curioso que a teairra mari tenha mais um oportunidade depois de ter sido ofuscada pela rihanna na estratégia do jay z em 2005*. não deixa de ser verdade que têm leakado malhas com uma frequência assinalável, mas quem poderia esperar que em 2010 (e no estado algo lacónico em que a generalidade r'n'b se encontra) o eternamente adiado at this point fosse descartado para dar lugar a uma nova criação?** 'honey, i am past that point' disse ela em entrevista à rap-up tv.

apesar de se ter tornado uma presença subterrânea, a consistência assinalável na generalidade dos temas ('automatic', 'sponsors', 'coinz'), até torna a ideia de um álbum não tão descabida como inicialmente se poderia prever. para já point of no return é ressonante desse mesmo corte com um passado sonâmbulo. mas qual a razão para incorrer numa vulgaridade low-cost tão rafeira quando já se perdeu tanto tempo com meras frivolidades? exigia-se algum calculismo.

*sorte que falhou a nomes como a yummi bingham, megan rochell (tivesse visto a luz do dia e you, me and the radio seria dos melhores álbuns dos 00's) ou brooke valentine. e ainda será legítimo esperar por um novo álbum da cassie? : x

**na verdade, foi o aparecimento desses mesmos leaks a fundamentar todo o processo de regravação. faria algum sentido at this point ver mesmo a luz do dia?

reaparecer

compreendo que a postura cockney possa até soar forçada de tão descarada e que a profusão de 'YEAH!' e 'GET ME' possam levar ao enjoo, mas todo o backlash contra o bruza sempre me pareceu exacerbado. a intransigência perante o sentido de humor sempre foi uma constante no grime (mesmo que 'duppy' seja prova em contrário), ainda para mais encarnado numa persona tão confiante na sua arrogância, mas doin' me era uma mixtape bastante decente e 'no one but u' é a melhor canção r'n'g de sempre.

reconhecendo essa mesma realidade, tales of the underdog é um título mais do que adequado. sem ponta de auto-comiseração. a edição grátis parecia-me algo improvável, mas tendo em conta todo o historial rocambolesco do disco*, até constitui o meio mais viável de promoção de um objecto que parecia ter-se há muito extinguido. está longe de ser brilhante, mas tal não seria exigido numa altura em que o desnorte no género tem levado à glorificação de alguém como o tinnie tempah ou do crossover patético do tinchy pós-cloud 9. também não é a montra da aftershock que se poderia esperar (apesar de meia dúzia de produções do terror danjah) e (desta feita) as participações de gente como a mz bratt garantem algum valor acrescido, sem desvirtuar o papel central do bruza.

apesar do périplo, a datação temporal nem é um problema. será até uma das suas virtudes. 'not to nite' é como um recuerdo de 2001/2, quando o mcing sobre malhas ukg era ainda uma entidade anónima. a presença do sticky e do spyro na produção enfatizam esta mesma ideia, sem acessos de nostalgia 'back in the old days' (suspiro). 'smile' com a ella james é um momento de vulnerabilidade extremamente compensatório, que atira para fora de água grande parte das tentativas recentes de diálogo. nos antípodas está uma 'appreciation' que, não só descarta a subtileza oblíqua dos sintetizadores loungy que permeiam o álbum, como recorre à lauren mason. a presença do james vemon é para ignorar, também. tales of the underdog merece alguma atenção.

*descartado por uma multinacional, esteve com lançamento físico via aftershock em 2007 para desaparecer no éter.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

multiverso

tratando-se de uma pessoa pelo qual nutro o maior respeito e uma daquelas (poucas) mentes para quem a arte não se esgota numa prazenteirice (sic) desinteressada, para abraçar uma conceptualização livre de premissas estanques, já há muito que deveria ter feito referência ao filipe felizardo neste espaço. infelizmente, o blog dele tem estado inactivo, mas em jeito de compensação têm vindo a lume belíssimos podcasts semanais partilhados num mindset de comprimento de onda similar. ideal para o verão em toda a sua multiplicidade e espaço para a reflexão stream of consciousness. porque a arte (ainda) é partilha.

...e övöo espalhou também óptimas coordenadas ao longo de um trajecto volátil.