segunda-feira, 29 de novembro de 2010

marcha nielsen



uma voz que me trouxe as primeiras gargalhadas pós-infância. apesar dos inícios mais "sérios" e da sci-fi low cost, foi a partir do momento que se passou a ser o actor fetiche dos ZAZ que se veio a tornar naquilo que qualquer gajo nascido nos anos 80 viria a reconhecer. dr. rumack e frank drebin confundem-se com o próprio nielsen e viriam a ser o template de uma carreira irregular pautada por cameos em filmes que não lhe faziam justiça. a memória trata de os apagar e perpetuar momentos tão clássicos como este. à falta de palavras relembra-se a voz envolta em nostalgia.



sexta-feira, 26 de novembro de 2010

doces

tendencialmente sou pouco adepto de indecisões britânicas entre a pop larger than life e meta-esperteza indie pós-anniemal. recentemente, apareceram dois casos que me fazem repensar esse mesmo cepticismo. 'i'm the fool' das soundgirl consegue fazer da intransigência de alguém como a santogold algo apelativo, sem incorrer no grrrl power insípido ou exuberante. não tendo nada particularmente original, ganha pontos pelo modo como consegue de um modo quase casual ser tão referencial quanto memorável sem forçar classe. o vídeo epitomiza essa mesma ideia com recurso a uma elegância naive onde todos os clichés têm o seu lugar. e uma linha como "this ain't glee, i'm back on the wire / if this was twilight, i'd be a vampire" merece ser reverenciada. ou seja, street smart. por três meninas que não necessitam de simular vivências no ghetto.

o caso da florrie é o paradigma dessa coabitação saudável. recolhe para si todas as coordenadas que interessam: membro da casa xenomania, colaborações com o enorme fred falke e a opção de disponibilizar gratuitamente a sua música em mp3 ao mesmo tempo que edita introduction em edição limitada/assinada em vinil. directa ou indirectamente existe um posicionamento estratégico notável que, a haver justiça, fará da artista de 21 anos um nome de confiança. e me impede de entrar pela prosa especulativa ou analítica.

terreno fértil.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

futuros

portanto, a ameriie (!) abandona aquela casualidade r'n'b fértil em ganchos flexíveis que lhe assentava com uma naturalidade desarmante, para adoptar uma produção entre a eurodance e alguma synth-pop mais eufórica de tiques asiáticos. com isso procede também a uma ligeira alteração de pendor exótico no nome, como que a anunciar uma nova direcção para cymatika vol. 1. é certo que nunca se lhe reconheceram grandes capacidades camaleónicas, pautando-se por uma rigidez sonora que de all i have a in love and war poderia ser interpretada como conservadorismo, mas esta via soa terrivelmente desajustada. se 'heard 'em all' investiu numa agressividade inusitada, mas mantinha traços de identidade suficientes para ser reconhecido, 'outside your body' descaractriza-se ao ponto de eu simpatizar com a homenagem simplista às suas raízes coreanas no refrão. quase nada.

o provável título do álbum (a sair em 2011) é assustador por infligir uma imagem andróide para quem sempre se mostrou como aquela girl next door inatingível do género.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

post-apartheid

duas marcas distintas da vitalidade da música de pendor dançável vindo do soweto sul-africano. a primeira como que a perpetuar uma cultura ancestral por via do frenesim da electrónica roufenha. a segunda a oferecer uma possível definição daquilo que se pode encontrar sobre o sofrível termo global bass (quando é de house que se está a falar). indispensáveis,* sem que seja preciso incorrer no exotismo brute-force.

*ayobaness! será, muito provavelmente, o melhor disco que ouvi de 2010.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

fusco

vídeo brilhante no modo como torna a everyday life nocturna em algo absolutamente assustador com recursos tão escassos e sem enveredar por uma lógica onde a tensão pressuponha um qualquer climax imagético. a (aparente?) normalidade a encerrar o maior dos medos. pela proximidade. em empatia com uma arquitectura sónica que se sustenta na sua volatilidade intrigante e deslocada de um premissa estanque. desfiguração da realidade em andamentos difusos aos quais a voz narcótica do trim concede o fluxo necessário para a gestalt fazer sentido. de certo modo, não surpreende que ande em digressão com salem. como contraponto real, este é o horror que interessa.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

sucesso

a antecipar a reedição de dagger paths pela, recentemente descoberta no pain in pop, rabisquei algumas ideias sobre 'rattling cage'. aproveitando esta miniatura para deixar aqui o plano de operações da olde english spelling bee para o mês de novembro. o enredo adensa-se. o desenlace é previsivelmente belo*.

*apesar de não ter gostado tanto de foxy baby como inconscientemente esperava, e de não ter dado o devido reconhecimento (i.e. tempo) ao tag team de feed me / on air. nada que esmoreça o entusiasmo em torno da editora.

ainda no campo da exploração prazenteira, a semana passada houve espaço para a escrita semi-automática sobre living with yourself.

montes + 1

ainda na senda da enxurrada wiley, três malhas acabam por sintetizar de um modo tão sucinto quanto desnecessário as tendências que o próprio tem vindo a criar sem que necessariamente seja ele o protagonista. apenas 'blue bottle kiwi' se lhe deve na totalidade e não é mais do que uma revisão da batida matriz do grime circa 2007 envolta no cinzentismo dissimulado dos sintetizadores e no néon de return of the big money sound. 'terms of agreement' do scorcher é de uma indecisão atroz entre a euforia da pista de dança e o massacrar pós-industrial, ainda a recolher os destroços desajustados da 'pon di floor'* e incapaz de atingir o entusiasmo a que se propõe. 'now or never' surge num contínuo subjugado das recentes colaborações de roll deep com a jodie connor (o propósito de 'good times' parece ter sido apenas a revisão brilhante por ill blu), numa tendência pop tão descaracterizada e banal que nem a pretensa delicadeza se consegue impor.

tudo isto como que a refrear os ânimos que a minha anterior referência pudesse transparecer de modo erróneo. dificilmente winner stays on teria algum valor. ainda assim, prevaleceu a curiosidade** e ouvido hoje uma vez diagonalmente, deixou de existir o meu disco rígido como se nem tivesse passado por ele. o regresso a street anthems será a escolha acertada.

*infelizmente, parece ter sido uma via a seguir em demasia ao qual nenhum género tem escapado. não é, apesar da princess nyah lhe ter conferido alguma credibilidade.

**mesmo derivada do sucesso comercial, explicável mas pouco entusiasmante, de 'good times' e 'green light' na versão original, não seria cínica o suficiente para o descartar sem qualquer hipótese. deveu-se ainda assim a uma questão de timing.

ou seja, tudo na mesma.