quinta-feira, 2 de junho de 2011

notas para 'a new way to pay old debts'

o meu texto a a new way to pay old debts no bodyspace foi um dos exercícios de escrita mais desafiantes/gratificantes a que me propus. não só pelo peso incomensurável desse disco, como pelas noções do instrumento guitarra que foram sendo alvo de debate interno e que, pela sua dispersão, não poderiam ser incluídas na resenha. tal como tinha referido em fevereiro, deixo aqui algumas notas adjacentes ao original :

"Os miúdos sonham com ela ao ponto do air guitar ao som de “Wrathchild” causar acidentes domésticos mais ou menos graves"

^^ episódio caricato que teve como protagonistas os (ainda adolescentes) chris barnes e jack owen dos cannibal corpse e que serve na perfeição para ilustrar todo um entusiasmo febril. é também ponte para uma subtil mas obrigatória referência ao metal. curiosamente, para um género tão dado a acrobacias pelo instrumento, os dois nomes mais consensuais (iron maiden e metallica, claro) foram, em parte (era cliff burton), conduzidos até ao RIFF pelo baixo.

"Do fuzz primordial conquista o drone e os ecos de Loveless perduram até hoje em formas cada vez mais voláteis."

^^ que tanto se podem encontrar em toda a realidade subpar que se formou após endless summer ter-lhe dado novas coordenadas (quer a nível formal (processamento digital) quer de ressonância emocional), como no turbilhão de uns hototogisu, esticando a corda para um plano claramente mais abstracto e que faz do noise um poço inescapável. keiji haino como deus de tudo isto. sem falar numa descendência mais directa, e que hoje acho praticamente irrelevante.

"
Vitimada pelo reverb plastificado"

^^ existirá alguém com o mínimo de bom senso que possa de consciência tranquila elogiar o pat metheny depois de atrocidades como esta? e eu até tenho algum carinho difuso para com o reverb abusivo (80's memoir) de malhas como, sei lá, 'boys of summer' ou 'eyes without a face'. mais aí existe toda uma intangibilidade que é perpetuada nesse som. um contexto imagético, so to speak...

"
relembrar o seu uso num género tão “aberto” como o jazz é cingir a ideia a pouco mais do que Sonny Sharrock, Sonny Greenwhich e algum Fred Frith, confinada que está a um academismo de sofisticação bacoca"

^^ ou como a guitarra é o instrumento mais mal tratado de sempre no género. talvez o joe morris possa ser uma excepção a esta maleita, mas não sou conhecedor o suficiente para o poder afirmar com veemência. four improvisations é grande disco. deixei também, conscientemente, de lado o james 'blood' ulmer e o masayuki takaynagi : o primeiro por habitar num campo que foge demasiadas vezes ao género para se acercar de tonalidades mais bluesy/funk (apesar das ligações ao ornette, e de coisas tão boas como black rock); o segundo por me ser mais querido quando alimenta uma combustão mais própria do noise (e que teria eco nos hijokaidan, por exemplo) do que da high energy. sei também que existirão muitas coisas boas na obra do elliot sharp (disco com o christian marclay é um desses) mas, para todo o efeito, perdura no meu cérebro como um hit and miss que ainda não me dediquei a explorar.

"Son House, Mississipi Fred McDowell ou Lightnin' Hopkins que enformam grande parte dos avanços que o instrumento tem vindo a conhecer nos últimos anos."

^^ todo o rock passa por aqui, na verdade (como se isso não fosse já mais do que sabido). recuando para apanhar alguns guitar heroes, já o tommy iommi dizia que os black sabbath eram uma banda de blues negro (a cor, entenda-se. black blues só para pegar no haino novamente). peter green, é em toda a sua essência um bluesman.

"
Ekehard Ehlers reverente de A Life Without Fear"

^^ tratado de como a electrónica pode servir para perpetuar aquilo que nasce da pureza. é disco fascinante na sua capacidade de adaptar a metodologia de corte e colagem de algum glitch a um estado de alma ressonante para com toda a grittyness dessas gravações ancestrais.

"
à programação informática"

^^ constatar que é este o emprego do bill orcutt parece quase paradoxal para com aquilo que se ouve em a new way to pay old debts (ou até mesmo no escarcéu dos harry pussy.
in an emergency you can shit on a puerto rican whore é obrigatório).

"
Derek Bailey"

^^ é inevitável. sempre.

"
Cecil Taylor"

^^ o ataque percutivo às cordas só encontra paralelo nos momentos mais feéricos do cecil. o concerto dele com o tony oxley no ccb foi uma daquelas porradas inesquecíveis e irrepetíveis.

talvez venha a ser um work in progress. talvez não. algumas ideias dispersas, apenas.

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