quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

quadro de honra #1

primeira série de cinco canções. os links são para o youtube, soundcloud, etc. mas quem quiser algumas destas canções em mp3 pode sempre pedir-me :

argy – wish you were here (vocal mix)

uma das particularidades da música (não necessariamente dançável = 'new moon' para exemplo recente) herdeira da balearic beat é o facto de poder assentar numa lógica previsível sem que isso seja propriamente sinónimo de falta de ideias ou de um formalismo tépido. quanto muito, esse rigor só torna toda a noção de movimento contínuo ainda mais eficiente, adensando a coisa para a deixar respirar em sucessivas sobreposições em torno de uma linha condutora minimamente memorável. 'wish you were here' impõe-se logo na melodia inicial. sequência de acordes óbvia para deixar latente a ideia de longing que um título como este deixa no ar. há toda uma noção de familiaridade (bastante natural tendo em conta que vem de um ep chamado reminiscence) no modo como essa espinha dorsal se vai repercutindo nas sucessões rítmicas, crescendo sobre si própria com a entrada de uma melodia siamesa, antes do tearjerking de um novo sintetizador replicar a tal ausência que eco da voz insinua. malha óbvia e memorabilia instantânea, 'wish you were here' é um fluxo de nostalgia que toca em todas as virtudes do “género” sem recorrer ao escapismo tour-de-force (tivessem os chillwavers (ainda existe isso?) algum bom senso), nem ao hedonismo alienante. a celebração possível em isolação. aquele tipo de coisas que facilmente me conquista, sem ser necessária grande reinvenção.

gang gang dance – mindkilla

apesar de eye contact superar aos pontos o sobrevalorizado saint dymphna (tarefa simples e não me fodam, 'princes' é risível na tentativa. e qual a necessidade de mais um rip-off ao loveless?), e de algumas canções interessantes lá para o final, para a posteridade ambos reservam duas grandes malhas. 'mindkilla' é a 'first communion' de 2011. canção que se sustenta somente na propulsão rítmica e vai deixando deambular a voz da liz bougatsos e os estalos de teclado antes de chegar a uma primeira melodia que agarre a coisa como um refrão, e a leve até àquela linha de sintetizador absolutamente triunfal. coisa maravilhosa que fica a ecoar na cabeça muito depois de passar e que, à semelhança daquele riff gingão na 'first communion' não volta a aparecer. Infelizmente, ficou a faltar a 'mindkilla' uma coda mais interessante do que a repetição “don't fear the mindkilla / don't be the mindkilla” antes do ritmo descambar no confronto com o sintetizador, mas por volta dos três minutos já a canção tinha ganho, pelo que o resto é apenas uma inevitável descida depois de atingido o zénite.

eastwood – toilet blocker

só pelo conceito imagético, 'toilet blocker' era, por si só, um título tão incrível quanto risível/obnóxio. quando em confronto com todo o potencial galvanizador, esta malha do eastwood chega a uma win-win situation sem necessitar de quaisquer conjecturas. banger absoluto que foi presença constante em quase todos os sets de uk funky ao longo de 2011, 'toilet blocker' deu origem a um momento absolutamente incrível com o rankin e o shantie no programa do marcus nasty de 23 de março. não que a sua existência se justifique somente pela presença de mc's. são apenas elemento bem vindo a algo inescapável. aparecida logo no início do ano (e presente no we r bass), 'toilet blocker' é um instrumental de pleno direito imparável na sua convulsão rítmica : imperam os drum rolls e as tarolas sincopadas, a cavalgar um baixo áspero sem qualquer necessidade de melodia para além de uns toques bem sci-fi de sintetizador. descartando o supérfluo em virtude de uma identidade dançável imperial.

soundgirl – don't know why / don't know why (mike delinquent remix)

'why' já era no original da carly simon uma canção brilhante com produção do nile rodgers (presente na bso do soup for one) com inclinações reggae-lite. daí que a primeira vez que ouvi esta releitura das soundgirl tenha sido o fantasma dos ace of base a assombrar a canção. O que é desde logo bom prenúncio e fez da 'alejandro' a melhor coisa que ouvi da gaga. aqui, o tom ligeiramente enevoado da original dá origem a uma candura cintilante que acaba por ser mais adequada a estas três miúdas britânicas do que o tom quarentão da carly simon (na verdade, um ícone dad-folk mais do que outra coisa qualquer). mesmo sem se desviar muito de 'why' em termos formais, deixa a produção iluminar a voz das soundgirl sem lhes prestar grande atenção para as deixar brilhar com a entrada em uníssono no refrão. concentrando aí todas as atenções (e a fazer esquecer o rapping intrusivo do mann), ao invés de seguir um fluxo contínuo-media res como acontecia na versão original. passou despercebida, como já tinha acontecido com a enorme 'i'm the fool' e cada vez parece mais distante a ideia de um álbum. infelizmente.


por um feliz acaso, descobri no youtube que existia uma remix do mike delinquent. como esperado, revival 2-step como já acontecia na remix dele para a 'traktor' (sobre a qual talvez venha a escrever alguma coisa), com o bom senso de nunca soar meramente revisionista. Automática, no aproveitamento dessa mesma batida clássica e da linha esquelética de sintetizador, mas quase tão eficiente quanto essa no modo como volta a fazer do classicismo 2-step uma coisa memorável e sensual, que não entre pelas armadilhas sorumbáticas do future garage e merdas assim.

vaski - spaceman (dillon francis remix)

torna-se fácil desacreditar de um “género” cuja premissa base é somente desacelerar o ritmo de malhas de dutch house até aos tempos do reggaeton. no fundo, a inversão lógica daquilo que foi o nascer dessa primeira leva toda esta tendência para os campos de um rehash que não faria o mínimo sentido, não fosse tudo isto desprovido de qualquer tendência para o militantismo ou prepotência referencial. no caso do moonbathon (explicação para o nome na entrevista linkada mais abaixo) estamos num campo ignorante do pós-modernismo, da pós-ironia e de toda uma contextualização intelectualizada, nascido no seio do fenómeno das skipping parties e que cujos interesses convergem sempre na celebração (por muito chessy que possa ser). do modo mais pueril possível (ou assim o prefiro pensar). claro que tudo isto poderá sempre encarreirar no “temido” hype (e a sombra oportunista do diplo já paira por aqui), mas por agora poucas coisas me fariam mover mais as ancas do que apanhar a remix do dillon francis para o dubstep bovino desta 'spaceman', numa discoteca de praia a cheirar a creme hidratante. tão simples quanto isso, e com plena consciência da sazonalidade e do vazio da cena. apesar de malhas como a 'masta blasta', a remix para a 'take it back' ou mesmo o já clássico 'moonbathon' do dave nada serem escolhas mais óbvias, 'spaceman' eleva-se na sua condição de party anthem por toda uma melancolia subliminar patente no néon rafeiro do sintetizador. transformando uma produção tendencialmente genérica em algo que se revela continuamente no seu âmago com a chegada de novos factores (como o breakdown prematuro que desemboca naquele wooble púrpura). nocturna e urbana, não é o elogio ao calor mais natural do género, mas um óptimo exemplo de que uma batida pode ser aquilo que o quisermos.

^^texto incluído neste feature do bodyspace. daí o desfasamento temporal.

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