quarta-feira, 27 de outubro de 2010

amor

obviamente que a minha relação de amizade (além de partilha comunicacional/musical em osso) me tornam suspeito para falar sobre a obra do carlos nascimento. no entanto, alienar-me das virtudes de robert foster (pseudónimo sacado ao clássico beneath a steel sky que esconde o seu trabalho pós-ghoak) não faria qualquer sentido factual pela "mera" existência de fortes ligações afectivas. numa altura em que a ressurreição dos sintetizadores de calor analógico tem vindo a colher louvores nem sempre meritórios, a música de robert foster eleva-se para lá da mediania vigente destituída de pathos.

mesmo habitando num plano cartografado, comum a alguns dos nomes mais importantes do agora (stellar om source, oneothrix point never, etc.), explora o seu próprio campo referencial por via da transmutação simbólica das premissas fundadoras da música sintetizada. aglutinando memórias do vangelis de albedo 0.39, john carpenter, kösmiche, inflexões prog da escola rick wakeman ou da grandiloquência do jean michel jarre de deserted place a equinox, para as filtrar num contínuo cronológico tão devedor da pré-idm ambiental dos orb ou future sound of london, como dos estados alterados consequentes dos autechre circa tri repetae++ ou (invariavelmente) das vignettes dos boards of canada. com todo aquele sentido de risco inescapável numa realidade pós-endless summer.

todo este manancial é parcimoniosamente arquitectado em composições semi-improvisadas, minuciosas mas nunca austeras, de uma sensibilidade quase tangível, escapando ao exagero new age ou ao pastiche retórico sem forçar uma saída de recurso. persiste uma melancolia difusa, um sentimento de abandono para coordenadas dispersas. o vazio envolvente de blackmass, onde a dark star do carpenter se transforma numa possível realidade, igualmente intrigante, é caminho natural para a nostalgia futurista de '1985' e (principalmente) de '1970'. a constatação óbvia de que não existe qualquer embuste trendy numa música que só faz sentido assim. deslocada espacial/temporalmente, é especulativa na medida em que habita no cérebro para se dotar de uma significância dependente do conforto referencial do ouvinte. não incute imagem, precede-a.

tudo isto pode ser confirmado AQUI. ignore-se a leitura precedente, e tudo irá fazer sentido. mesmo.


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