terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

quadro de honra #4

já eram para ter sido publicados faz tempo. entretanto a lista das minhas canções do ano do bodyspace já foi divulgada, mas aqui estão uns últimos (algo apressados) rabiscos sobre canções que deviam ocupar um lugar especial em algum lado :

ill blu - parachute

quando já estão mais do que expostas as tendências maximais dos ill blu no campo das remisturas pop, desvirtuando (para bom efeito) as prestações vocais para um campo onde se assemelham a meras sessões, 'parachute' eleva-se, nessa premissa, por via de um certo nervoso-miudinho subliminar que, de outro modo, a Cheryl Cole nunca poderia atingir. nem interessa invocar o original, quando esta é a versão que interessa, pouco preocupada em conceder protagonismo à voz banal (e terminantemente irritante) da Cheryl Cole para a imiscuir num arsenal sónico implacável, que ostenta todo o poder galvanizador dos sintetizadores para transformar a simplicidade do refrão ("baby if i got you, i don't need a parachute") num dos momentos mais memoráveis do ano transacto sem que se dê pelo rosto.

tyler, the creator - french

com tanta tendência para o onirismo e para a experimentalismo brute force, o hip hop mais aventureiro parece ter perdido tudo aquilo que fazia dele algo tão essencial quanto tendencialmente perigoso. ou seja, chegou-se a um ponto em que todo o risco é assepticamente dirigido para atingir um shock value que, enquanto statement, acaba por se revelar tão inofensivo quanto gratuitamente esperto. no colectivo odd future wolf gang will kill them all, tudo é exposto de um modo igualmente gratuito, mas é feito de acordo com um modus operandi tão displicente na sua sinceridade que, finalmente, a noção de perigo volta a ser palpável. talvez seja essa presença figurativa tão próxima da realidade a erigir uma singularidade fascinante (pense-se na sobre-exposição continua do lil b) de um miasma moralmente repulsivo. fruto do líder tyler, the creator, com participação do hodgy beats, 'french' está minada por uma imagética depravada ("i'm opening a church to sell coke and led zeppelin/ to fuck mary in her ass"), mas objectivamente dirigida com um propósito, nem sempre digno, mas de uma clareza intrigante. esta, passa por uma tensão latente que a produção corroba de modo fidedigno. o baixo agreste vai de encontro a sintetizadores estáticos e por todo o lado parece acercar-se uma desconfortável sensação de desconhecido. por aqui, tudo isto poderá bem ser o verdadeiro lifestyle destes putos da costa oeste.

jazmine sullivan - u get on my nerves

'holding you down (goin' in circles)' não foi a melhor escolha para single de apresentação de love me back. a produção faustosa da missy a camuflar uma canção que, de outro modo, seria facilmente esquecida e (utilizando o termo) anda em círculos sem se decidir. com as capacidades vocais da jazmine a incorrerem em alguns excessos ocasionais ao longo de um óptimo disco (como que a reclamar o protagonismo), 'u get on my nerves' é virtuosa no modo como toda a arquitectura sónica parece ir de encontro à canção e não o contrário, na verdadeira acepção de um dueto. tematicamente, recorre ao deteriorar de uma relação sob as duas perspectivas, com o ne-yo a dar réplica masculina ao atrito latente, culminando num refrão onde se canta "u get on my damn nerves" em uníssono, como que a reconhecer a culpa de ambas as partes. todas aquelas pequenas irritações, tão desnecessárias quanto naturais, e que numa escalada de fricção levam às grandes mudanças. vicissitudes.

mario basanov - up

o oposto de qualquer malha em que enfoque esteja no efeito omfg / didn't see that coming, 'up' é exemplar no modo como a sua construção linear consegue dispensar qualquer apetrecho tecnicamente notável para se assumir de modo brilhante como um daqueles objectos paradigmáticos da estratificação dos seus elementos com vista à gestalt. poderia extrapolar mais sobre as virtudes que fazem dela a melhor malha de house que ouvi em 2010, mas o tim finney salienta-as em toda a sua plenitude : "The entire purpose of this music is not to wow you with craft but rather to evoke a kind of empty but aching nostalgia for a moment that you may not have lived or even be in a position to imagine, and I increasingly suspect that for tunes to attain this specific vibe they need to be somewhat timeless themselves. Not in the boring rock critic sense, but in the sense of dance music which carefully evades as far as is possible the kind of timeliness that is so much dance music's appeal". e isto é tudo aquilo que eu poderia dizer. mas em melhor.

ariel pink's haunted grafitti - round and round

já muito se escreveu sobre 'round and round' e inegável constatar o seu brilhantismo no modo tão natural como resvala para a liga de "canções maiores do que a vida" sem forçar o mínimo de grandiloquência e permanecendo numa esfera eminentemente cool que açambarca tudo sem que se dê por isso. ouvi-la pela primeira vez num carro a caminho da praia com sol fez todo o sentido, mas 'round and round' subsiste de modo grandioso em qualquer habitat.

outras escolhas possíveis :

donae'o - i'm fly
devine collective - people keep dancing
chrisette michelle - unsaid
husalah - you neva know
trey songz - doorbell
breach - fatherless (doc daneeka remix)
tifa - nah stop shine
wacka flocka flame - hard in da paint
ciara ft. the dream - speechless
fantasia - man of the house

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