quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

quadro de honra #1

muito em breve serão publicadas no bodyspace as listas individuais das melhores canções de 2009. enquanto isso não acontece, deixo aqui algumas canções que, por uma ou outra razão não ficaram (mas poderiam muito bem ter ficado) no top 10. sem grandes cuidados. só para descarga de consciência, talvez :
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gucci mane - first day out
sem dúvida, o rapper mais importante de 2009. 'shine blockas' do big boi pode ter sido a sua faceta mais visível, mas os mais atentos encontraram dispersos pelas mixtapes inúmeros argumentos que lhe garantem a pole position. em 'first day out', discorre sobre o seu regresso da prisão de forma mais do que assertiva, mas é o instrumental que toma o papel de protagonista. de uma sobriedade elegante plena de melancolia, com o toque de génio que é samplar a comovente melodia do final desse assombro citadino dos anos 90 que é o heat do michael mann.
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aquaparque - museu de cera
aparece já para o final de é isso aí como quem cai no poço. batida martelada e teclado opressivo que descamba graciosamente na mais bela canção portuguesa de 2009. "sempre a queixares-te de lamber mal as costas / deixa-me tirar-te o afaga da tua pele" é amor trôpego como o imagino. numa fragilidade palpável que se solta da melodia central de circo triste. de pessoas toscas. o nada e a insegurança que ele acarreta. "nem sempre ficamos mais fortes por sarar feridas" lugar comum? talvez. não deixa de fazer todo o sentido. mais ainda, quando toda a envolvência se abate sobre esse mesmo sentimento de modo tão eficaz.
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acima de tudo, a voz de hope sandoval. sussurro pós-coito com o dom de enfeitiçar que credibiliza automaticamente qualquer instrumental. through the devil softly foi o regresso de hope às canções feitas da sua voz. 'blanchard' emana a brisa que trespassa o demónio do título do álbum. igualmente sedutora perante um mal subcutâneo. flutua entre a melancolia pós-adolescente de 'fade into you' e a alienação outunal de 'umbilical'. o melhor de dois mundos. e aquela voz, sempre.
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no início de 2009 evitei propositadamente o termo "espiritual" para descrever a 'i pray'. não só pela carga negativa que o termo acarreta (do chill out ao "yuppismo" pseudo-hippie, com passagem pela new age) como pela facilidade de reduzir uma canção brilhante ao ascetismo metafísico. incorrendo, agora, nesse risco é inegável na sua tensão latente um certo apelo à meditação, que é desde logo notório no próprio título. sucinto. a voz apela a um algo inexistente ou inatingível como refúgio mental. mesmo que subliminarmente exista para suster o apelo físico da cena. dançar e foder num mesmo plano espiritual. ou imaginário, para não ferir susceptibilidades.
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poderá até ser a melhor canção de 2009, mas a sua presença assídua em tantos textos ao longo do ano e respectivos balanços retrai-me de a incluir na minha lista para o bodyspace. dar espaço a outras vozes igualmente prementes. 'my girls' é a melhor canção da banda de baltimore desde 'loch raven'. tem uma letra ignóbil na sua humildade desarmante, mas nunca foi essa a virtude dos animal collective. 'my girls' é um tratado sobre a felicidade possível sem incorrer na patetice. música perfeita para a mixtape caseira (como se isso ainda fosse viável) para oferecer à rapariga que se quer engatar sem ser demasiado óbvio. a CANÇÃO a recordar de merriweather post pavillion. se possível todos os dias. como acordar de manhã com um ovo kinder na mesinha de cabeceira.
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