terça-feira, 12 de janeiro de 2010

quadro de honra #3

acaba hoje, prometo. é tempo de dar descanso a 2009. mesmo que este ano seja ainda demasiado jovem para que se pense nele com um mínimo de seriedade e/ou oportunismo.
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geeneus ft. ms. dynamite - get low
era esperado com alguma ansiedade o regresso da ms. dynamite às prestações aggro do passado ('booo!' = clássico absoluto), depois do falso aranque uk funky da 'bad gyal'. enquanto tour de force / ruptura 'get low' marca também a primeira fuga do geeneus às produções vincadamente house que têm sido a sua marca autoral, com o produtor a resgatar a aspereza do seu background grime para oferecer a ms. dynamite um stomp de percussão absolutamente impárável. sem qualquer melodia presente, ela reitera para si todas as atenções com uma prestação avassaladora. mais uma prova indelével de que são as meninas a dominarem o mcing na funky ('eye too fast' da lady chann, 'pull it, wheel it' da shystie, etc.). uma bem vinda lufada de ar fresco de que o grime se deveria orgulhar não fosse tão centrado na masculinidade (até a diversão de 'too many man' padece deste problema).
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que mais poderá ser dito sobre 'hyph mngo' a não ser salientar o seu impacto emocional depois de tanta "tinta escorrida" sobre o primeiro lançamento de joy orbinson? pouco a caminho de nada. acima de tudo, marca-me enquanto afastamento do dubstep das suas propriedades soturnas, conduzido até à nostalgia funky sobre uma batida 2-step despida de artifícios intrusivos. construído em redor de duas notas saturadas de orgão sintetizado, nunca cede ao grande crescendo para se construir gradualmente em torno dessa melancolia eufórica em sucessivos andamentos e justaposições delicadas. a escolher uma cor, seria púrpura. sem que saiba muito bem a razão de tal escolha (e sem grandes qualidades sinestésicas que sabia).
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álbum imaculado nos seus 35 minutos, local flavor deixou escapar 'tangier' ligeiramente acima das restantes por força daquela junção de factores inusitada que apenas os blues control parecem fazer bem (quando tudo aponta no sentido contrário). de que outro modo poderiam funcionar aquelas vozes de sintetizador senão de encontro à melodia arabesca vinda de nenhures? como pode o pulso kraut da batida rafeira coabitar de modo tão natural com uma pianola doo-wop? acima de tudo, que motivações estarão por trás de alguém com bom senso, para construir com estas propriedades um momento de brilhante melancolia nocturna?
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2009 não foi um ano particularmente feliz para o grime. ofuscado pela emergente uk funky sem se saber aproveitar das suas virtudes e preso a soluções formulaicas sem grande inventividade. existem sempre excepções (as várias versões de 'next hype' do tempa t, por exemplo), mas não deixa de ser curioso que o momento mais memorável do género tenha sido uma produção r'n'g algo convencional do danny weed. com o sintetizador borbulhante a suster as interpretações dos mc's, para deixar brilhar a shola ama numa interpretação tão natural que se tende a esquecer o teor amargo do refrão.
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claramente o melhor álbum de r'n'b de 2009, how to be a lady, vol 1 deixou-nos várias pérolas. escolho a 'bed rest' como poderia escolher 'go shawty', 'drink in my cup' ou 'devotion'. talvez seja aquela sensualidade groovy a lembrar lovesexxy feita de um modo tão descaradamente pop-light e sem recurso à mise-en-scene exuberante (citando-me a mim próprio : x), mas 'bed rest' foi a música ouvida mais frequentemente. a verdade é que ouvir o álbum é obrigatório. mesmo.

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