terça-feira, 21 de dezembro de 2010

quadro de honra #1

tal como o fiz o ano passado, vou deixando aqui malhas que não irão aparecer na minha lista de 10 canções do ano para o bodyspace (sairá lá para o início de janeiro), mas cuja relevância me leva a dedicar-lhes algumas palavras. dado que já tinha falado de algumas delas, e não querendo repetir ideias, deixo link para aquilo que rabisquei na altura (pressupondo que mantenho a opinião, obviamente). pretendo deixá-las em blocos de cinco (sem ordem) a seu ritmo. isto é, conforme o tempo e a paciência permitam.

live - lion's den

não seria, de todo, descabido pensar na alusão bíblica ao "covil dos leões" do livro de daniel. 'lion's den' tem também o poder de calar todos os detractores que acusam a uk funky de ser um género mercantilista para dança pré-foda alimentada a martini e vodka preta (i.e. gajas lascivas meets parolos sofisticados). 'lion's den' é um tema barricado e de rosto fechado, que zomba do fist pumping ao mesmo tempo que consegue soar igualmente avassalador. enquanto aquelas cordas anunciam todo o potencial apocalíptico do tema, a batida entra sem grandes concessões num registo tão inflamável quanto insinuante (na medida em que se permite a um manusear de ancas do mesmo modo que ameaça "partir tudo"), como sustento limite para que uma pianola paire de modo estranhamente gracioso vinda de nenhures. é como se a tensão circular de 'inflation' fosse tudo aquilo que restasse dela, seguindo a lógica de um tema que acaba por encerrar tudo aquilo que é aceitável numa pista de dança amplificado ao ponto de ruptura pré-bovino. isto, com um mc no topo (seguindo uma tendência dancehall tão explosiva, na linha da 'buss it') é banger por definição. sem que tenha essa necessidade.

the fives ft. vanya taylor - it's what you do (hottest by far)

^^ via bodyspace

redlight ft. roses gabor - stupid

^^ aqui

beach house - walk in the park

uma vez que saltei daquela fragilidade faux-estranha do primeiro álbum para teen dream, desconfiei que 'norway' pudesse ser aceitável por uma grandiloquência anómala. entretanto, ainda não sei se devotion já caminhava para esta direcção, mas acabei por aceitar os excessos vocais e as propriedades faustosas de teen dream sem grandes problemas de consciência. dessas primeiras audições, 'walk in the park' foi a única malha que ecoou de algum modo e ainda hoje se mantém como o momento que recordo com algum carinho. é aquele lado de passeio domingueiro que também pode ser vivido de modo igualmente sonolento à frente da tv (10 things i hate about you, all the truth about cats and dogs, por aí...) e que fez com que 'fade into you' (apesar de hoje não a conseguir ouvir) fizesse sentido há uns anos atrás. sem ser particularmente nostálgica, consegue ser, ainda assim, reveladora de um estado de espírito romântico que se desdenha quando visto de um ponto de vista racional, mas cujo sentido habita mesmo nessa capacidade de incutir à apatia um certo lado sonhador ficcionado. foda-se, o disco chama-se teen dream.

guilty simpson - cali hills

mais do que um álbum do guilty simpson, oj simpson é um tag team entre este e o madlib, cujo título se revela enganador nessa medida. sofre dos problemas de um álbum de produtor (depois de donuts, valerá mesmo a pena?) enquanto despacha o rapper numa dúzia de prestações. sendo que este sucumbe frequentemente perante a sua própria petulância, descaracterizado pelos recursos estilísticos do hip hop mais violento, oj simpson não só não disfarçou essas debilidades como foi incapaz de lhe conferir uma voz. apesar da existência de alguns momentos interessantes, 'cali hills' é a peça relevante de um puzzle abjecto. e o único momento de verdadeira simbiose. curiosamente, afasta o guilty simpson do ghetto, numa sentida homenagem ao j dilla, onde reflecte sobre a sua ascensão ao panteão de génio sem encetar pelo desgosto comiserativo de uma vivência cruel, pejado de referências thug. neste caso, o flow sonâmbulo adequa-se a um instrumental sem grandes malabarismos, onde o sampling (denso) serve os propósitos dessa mesma prestação. talvez tenha sido o fantasma do génio de detroit a presidir a tudo isto. talvez.

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