segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

a derrota do ruído?

o concerto de gary war na passada sexta-feira foi mais ou menos assim. o diogo silva falou em joy division, mas parece-me exacerbado, embora compreensível com alguma má vontade. o miguel fez um retrato lindíssimo da experiência jandek no maria matos, no dia seguinte.
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noutras latitudes, os últimos singles da shakira e do usher revelaram-se surpreendentemente incríveis*.
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*não tanto no caso de 'did it again' depois dessa maravilha que foi a 'she wolf'. o que me leva a pensar se não deveria ouvir o álbum.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

a vitória do ruído?

a minha tendência (algo recente) para levantar questões sem que me digne (pela incapacidade) a respondê-las de forma efectiva, tem levado a que os meus textos mais recentes no bodyspace se tornem demasiado extensos em torno de pequenos nadas. dissertações inconclusivas sobre a natureza de coisas tão simples como um disco agradável. horribles parade do gary war é o último exemplo disso.
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^^tantos semi-círculos em torno do noise levaram-me a reler mais atentamente o balanço da década feito pelo marc masters para a pitchfork. admiro-lhe a estrutura linear, devidamente fundamentada em premissas essencialmente geográficas (as insuspeitas rhode island e michigan à cabeça) e a referência fugaz a nomes como hive mind ou sick llama. embora óbvio, conseguiu ser declaradamente informativo sem ser demasiado austero em terrenos ainda por cartografar devidamente*. a referência inicial a animal collective era algo excusada, mas compreende-se enquanto catalisador temporal. incompreensível a opção de reduzir os skaters a uma nota de rodapé na inevitável referência à hypnagogic pop**.
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*props pelo bom senso, mesmo que numa escrita algo rígida.
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**que poderia ser apenas um capricho de fanboy. mas existem demasiados mundos a descobrir no universo desses dois drogados para passar incólume.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

imaviz

em havendo paciência, podem ler aqui a minha "dissertação" sobre a nostalgia em rifts de oneohtrix point never. aproveitando a deixa para deixar aqui a cover de 'heavy water/i'd rather be sleeping' de grouper, adequadamente reintitulada 'heavy water/i'd rather be creeping'. tema disponível na compilação radio scenic glow, vol. 1 e banda sonora ideal para passeios domingueiros pelo centro comercial abandonado que mais se lhes aprouver:
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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

quadro de honra #3

acaba hoje, prometo. é tempo de dar descanso a 2009. mesmo que este ano seja ainda demasiado jovem para que se pense nele com um mínimo de seriedade e/ou oportunismo.
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geeneus ft. ms. dynamite - get low
era esperado com alguma ansiedade o regresso da ms. dynamite às prestações aggro do passado ('booo!' = clássico absoluto), depois do falso aranque uk funky da 'bad gyal'. enquanto tour de force / ruptura 'get low' marca também a primeira fuga do geeneus às produções vincadamente house que têm sido a sua marca autoral, com o produtor a resgatar a aspereza do seu background grime para oferecer a ms. dynamite um stomp de percussão absolutamente impárável. sem qualquer melodia presente, ela reitera para si todas as atenções com uma prestação avassaladora. mais uma prova indelével de que são as meninas a dominarem o mcing na funky ('eye too fast' da lady chann, 'pull it, wheel it' da shystie, etc.). uma bem vinda lufada de ar fresco de que o grime se deveria orgulhar não fosse tão centrado na masculinidade (até a diversão de 'too many man' padece deste problema).
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que mais poderá ser dito sobre 'hyph mngo' a não ser salientar o seu impacto emocional depois de tanta "tinta escorrida" sobre o primeiro lançamento de joy orbinson? pouco a caminho de nada. acima de tudo, marca-me enquanto afastamento do dubstep das suas propriedades soturnas, conduzido até à nostalgia funky sobre uma batida 2-step despida de artifícios intrusivos. construído em redor de duas notas saturadas de orgão sintetizado, nunca cede ao grande crescendo para se construir gradualmente em torno dessa melancolia eufórica em sucessivos andamentos e justaposições delicadas. a escolher uma cor, seria púrpura. sem que saiba muito bem a razão de tal escolha (e sem grandes qualidades sinestésicas que sabia).
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álbum imaculado nos seus 35 minutos, local flavor deixou escapar 'tangier' ligeiramente acima das restantes por força daquela junção de factores inusitada que apenas os blues control parecem fazer bem (quando tudo aponta no sentido contrário). de que outro modo poderiam funcionar aquelas vozes de sintetizador senão de encontro à melodia arabesca vinda de nenhures? como pode o pulso kraut da batida rafeira coabitar de modo tão natural com uma pianola doo-wop? acima de tudo, que motivações estarão por trás de alguém com bom senso, para construir com estas propriedades um momento de brilhante melancolia nocturna?
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2009 não foi um ano particularmente feliz para o grime. ofuscado pela emergente uk funky sem se saber aproveitar das suas virtudes e preso a soluções formulaicas sem grande inventividade. existem sempre excepções (as várias versões de 'next hype' do tempa t, por exemplo), mas não deixa de ser curioso que o momento mais memorável do género tenha sido uma produção r'n'g algo convencional do danny weed. com o sintetizador borbulhante a suster as interpretações dos mc's, para deixar brilhar a shola ama numa interpretação tão natural que se tende a esquecer o teor amargo do refrão.
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claramente o melhor álbum de r'n'b de 2009, how to be a lady, vol 1 deixou-nos várias pérolas. escolho a 'bed rest' como poderia escolher 'go shawty', 'drink in my cup' ou 'devotion'. talvez seja aquela sensualidade groovy a lembrar lovesexxy feita de um modo tão descaradamente pop-light e sem recurso à mise-en-scene exuberante (citando-me a mim próprio : x), mas 'bed rest' foi a música ouvida mais frequentemente. a verdade é que ouvir o álbum é obrigatório. mesmo.

a cena

entretanto, as listas já estão disponíveis. espero logo à noite deixar as últimas menções honrosas. porque há sempre alguma canções que marca. esperemos.

domingo, 10 de janeiro de 2010

quadro de honra #2

o resto. um resto :

annie - take you home
já conhecida da versão 2008, nunca editada de don't stop, 'take you home' chegou a 2009 como uma anomalia apática da annie. não descarta aquela tristeza delicada que lhe assenta tão bem ('anthonio' é o mais recente exemplo perfeito), mas encaminha-se para um plano descaradamente mais desinteressado. enquanto a melodia central se abate numa melancolia pós-euforia dançável, o regresso a casa é feito envolto em nuvens de alienação one night stand. facilmente se poderia incorrer na assumpção de estar perante uma annie predatória, no entanto é apenas uma motivação despida de um desejo caloroso que enforma toda a sexualidade latente no tema (e que o próprio ritmo insinua). é foda de rosto fechado. e sincera nessa mesma postura.
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geeneus ft. katy b - as i (skepta remix)
tema mais do que essencial para a compreensão da uk funky, 'as i' constitui o exemplo acabado da tendência house patente nas produções do geeneus. tendencialmente desconfio de remisturas a objectos perfeitos na sua singularidade, mas o bom senso do skepta impediu que se desvirtuasse o desespero dos versos (que pareciam poder habitar apenas no groove sumptuoso do original). aliás, a enfâse está mesmo na prestação dorida / esperançada da katy b, com o instrumental grimey a assumir um papel secundário. muito menos apelativo enquanto objecto dançável, e assumindo-se como uma canção (quase) r'n'g de pleno direito. a atmosfera mais rarefeita permitiu-me também compreender melhor a perfeição dolorosa das rimas. "i tried to put my finger on the time / when i started to see you in a different light / did it creep into my mind? / or did you give me a sign? / i ain´t sure...". sem acentuar a catarse final em "how it would make my heart beat / if you would come back to me" para se deixar levar até à questão final. "do you feel the same as i do?"
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peaking lights - two songs for ceremony (side b)
duas notas lançadas do espaço mais o uso da caixa de ritmos que apenas os blues control parecem ter coragem de utilizar de modo satisfatório e instala-se um fluxo constante que permite ao lado b de two songs for ceremony atingir alienação pós-excepter sem se perder. o delay impera. a voz de indra dunnis flutua sobre a estratosfera e deixa no meu cérebro uma inusitada aproximação ao imaginário mais spacey dos stereolab. não tanto na forma (muito menos classe), mas numa certa doçura subliminar na repetição que não destoaria sobremaneira em transient random noise bursts with anouncements através de um caleidoscópio. ou a passar pela mesa de mistura do king tubby numa noite mais dada a experimentalismos.
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quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

quadro de honra #1

muito em breve serão publicadas no bodyspace as listas individuais das melhores canções de 2009. enquanto isso não acontece, deixo aqui algumas canções que, por uma ou outra razão não ficaram (mas poderiam muito bem ter ficado) no top 10. sem grandes cuidados. só para descarga de consciência, talvez :
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gucci mane - first day out
sem dúvida, o rapper mais importante de 2009. 'shine blockas' do big boi pode ter sido a sua faceta mais visível, mas os mais atentos encontraram dispersos pelas mixtapes inúmeros argumentos que lhe garantem a pole position. em 'first day out', discorre sobre o seu regresso da prisão de forma mais do que assertiva, mas é o instrumental que toma o papel de protagonista. de uma sobriedade elegante plena de melancolia, com o toque de génio que é samplar a comovente melodia do final desse assombro citadino dos anos 90 que é o heat do michael mann.
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aquaparque - museu de cera
aparece já para o final de é isso aí como quem cai no poço. batida martelada e teclado opressivo que descamba graciosamente na mais bela canção portuguesa de 2009. "sempre a queixares-te de lamber mal as costas / deixa-me tirar-te o afaga da tua pele" é amor trôpego como o imagino. numa fragilidade palpável que se solta da melodia central de circo triste. de pessoas toscas. o nada e a insegurança que ele acarreta. "nem sempre ficamos mais fortes por sarar feridas" lugar comum? talvez. não deixa de fazer todo o sentido. mais ainda, quando toda a envolvência se abate sobre esse mesmo sentimento de modo tão eficaz.
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acima de tudo, a voz de hope sandoval. sussurro pós-coito com o dom de enfeitiçar que credibiliza automaticamente qualquer instrumental. through the devil softly foi o regresso de hope às canções feitas da sua voz. 'blanchard' emana a brisa que trespassa o demónio do título do álbum. igualmente sedutora perante um mal subcutâneo. flutua entre a melancolia pós-adolescente de 'fade into you' e a alienação outunal de 'umbilical'. o melhor de dois mundos. e aquela voz, sempre.
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no início de 2009 evitei propositadamente o termo "espiritual" para descrever a 'i pray'. não só pela carga negativa que o termo acarreta (do chill out ao "yuppismo" pseudo-hippie, com passagem pela new age) como pela facilidade de reduzir uma canção brilhante ao ascetismo metafísico. incorrendo, agora, nesse risco é inegável na sua tensão latente um certo apelo à meditação, que é desde logo notório no próprio título. sucinto. a voz apela a um algo inexistente ou inatingível como refúgio mental. mesmo que subliminarmente exista para suster o apelo físico da cena. dançar e foder num mesmo plano espiritual. ou imaginário, para não ferir susceptibilidades.
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poderá até ser a melhor canção de 2009, mas a sua presença assídua em tantos textos ao longo do ano e respectivos balanços retrai-me de a incluir na minha lista para o bodyspace. dar espaço a outras vozes igualmente prementes. 'my girls' é a melhor canção da banda de baltimore desde 'loch raven'. tem uma letra ignóbil na sua humildade desarmante, mas nunca foi essa a virtude dos animal collective. 'my girls' é um tratado sobre a felicidade possível sem incorrer na patetice. música perfeita para a mixtape caseira (como se isso ainda fosse viável) para oferecer à rapariga que se quer engatar sem ser demasiado óbvio. a CANÇÃO a recordar de merriweather post pavillion. se possível todos os dias. como acordar de manhã com um ovo kinder na mesinha de cabeceira.
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